Enorme surpresa em Paris. O ex-número um mundial Novak Djokovic caiu nos quartos de final de Roland Garros aos pés do italiano Marco Cecchinato — a grande sensação do torneio. Em claro ascendente de forma, o sérvio parecia destinado a regressar às grandes decisões em provas do Grand Slam. Contudo, este talentoso jogador desconhecido por estas andanças tinha outros planos e revelou uma superioridade fora do normal para fechar o encontro em quatro sets que se definiram pelos parciais de 6-3, 7-6(4), 1-6 e 7-6(11).
Num duelo recheado de drama e momentos de qualidade estratósférica, o 72.º classificado da hierarquia mundial ofereceu a todos os espetadores uma masterclass de luta e superação ao negar categoricamente o largo favoritismo atribuído a Djokovic. Antes de aterrar na capital francesa, Cecchinato nunca havia triunfado em Majors. Ao final da tarde desta terça-feira figura como semifinalista de Roland Garros.
E o mérito, esse pertence por inteiro ao vencedor. O siciliano evidenciou uma personalidade admirável ao recusar jogar na expetativa e reação perante uma lenda do ténis mundial. Muito pelo contrário, demonstrou-se capaz de assumir o controlo da disputa desde o primeiro momento. Fechou o primeiro set sem ceder qualquer ponto de quebra e mais tarde o segundo, no tie break, após salvar três set points e recuperar de um mini break.
O largo leque de armas apresentadas revelou-se impressionante, desde as pancadas mais longas aos diversos amorties que provavelmente irão tirar o sono a Djokovic durante as próximas noites. Adicionalmente, ia polvilhando o espetáculo com pitadas de virtuosismo através da sua esquerda a uma mão paralela a fazer lembrar um Stan Wawrinka no topo de forma.
Ainda assim, no terceiro set deu-se a quebra, tanto mentalmente como no seu jogo. Do outro lado do court, o tenista natural de Belgrado apresentava-se recuperado dos problemas físicos que o assolaram durante as partidas iniciais, o que resultou na sua própria ascensão no jogo. No final do parcial, o atleta mais cotado viu a sua desvantagem reduzida para a margem mínima.
O melhor estava guardado para o fim. Foi no quarto set que Cecchinato se transcendeu e juntamente com Djokovic protagonizou uma partida absolutamente memorável. Nole, que voltou a dar o ar da sua graça ao obter o break bastante cedo, encontrou-se mais tarde a servir para fechar. Mas aqui, o jogador de 25 anos deu um murro na mesa. Sabia que caso cede-se o set o adversário teria todo o ímpeto na ‘negra’.
Para espanto do campeoníssimo, o eventual vencedor foi mesmo capaz de se impor, e assim levar a decisão para um novo tie break. E foi precisamente aqui que a magia aconteceu: num autêntico braço de ferro, ambos os guerreiros proporcionaram pontos inacreditáveis onde o drama foi palavra de ordem. Após várias voltas e reviravoltas, foi mesmo o gladiador Cecchinato a erguer os braços antes de cumprimentar na rede o seu parceiro de treino em Monte Carlo.
O recente campeão do ATP de Budapeste encontra-se nas meias finais do Grand Slam francês. Se esta frase fosse proferida antes do inicio da prova provocaria certamente muitas gargalhadas. Mas a realidade é esta, o sonho continua e Cecchinato vai lutar por um lugar na final frente ao austríaco Dominic Thiem (8.º).