Antes do arranque da nova época, Mihaela Buzarnescu era uma jogadora discreta, com uma história pouco chamativa para a maior parte dos que se pudessem cruzar com o nome dela. Já com 30 anos, esta romena destacara-se sobretudo no circuito da Federação Internacional de Ténis, onde jogou 78 finais entre singulares e pares. Como dissemos, até ao arranque da nova época.
Agora, Mihaela Buzarnescu — perdão, a Doutora Mihaela Buzarnescu — está a viver os melhores dias da sua carreira enquanto tenista profissional e, possivelmente, da sua vida. Porque os courts lhe estão a dar alegrias inéditas e a fazê-la ser bem sucedida dentro do court, quando até agora era sobretudo fora dele que mais atenções reunia. Afinal, não é todos os dias que uma tenista profissional tem, no currículo, um Doutoramento em Ciências do Desporto.
Vamos por partes, até porque só assim conseguimos fazer justiça à história de Buzarnescu. A verdade é que, enquanto jovem, a romena já tinha conhecido o sabor do sucesso, mas no escalão júnior (onde foi número quatro do mundo e primeira na Europa). Só que depois apareceram as lesões, primeiro no ombro, depois no joelho, e nenhuma das duas cirurgias a que se submeteu pareceu resolver os problemas. Tentou viajar, tentou médicos de Rafael Nadal, mas nada resolveu os dois problemas que a afastaram dos courts.
Foi então que decidiu dedicar-se aos estudos, optando por um outro caminho caso a via anteriormente proporcionada pelo sucesso de raquete na mão não viesse a ser suficientemente sólida. O grau ficou concluído em dezembro de 2016, numa altura em que já Mihaela Buzarnescu recomeçara a competir — mas primeiro em provas amadoras e só depois novamente no circuito ITF, até que as dores desapareceram por completo. A partir daí? Sucesso absoluto:
Primeira final da carreira, atingida em Hobart já este ano, primeira vitória sobre uma tenista do top 10 mundial (sobre Jelena Ostapenko, por 6-1 e 6-3 na segunda ronda do prestigiado torneio do Qatar), entrada no top 100 do mundo e, entretanto, uma outra final — em Praga, onde só perdeu para a favorita do público Petra Kvitova. O embalo perfeito, portanto, para que em Paris, sem qualquer tipo de pressão, fizesse aquilo que até agora nunca tinha conseguido: vencer um encontro no quadro principal do Grand Slam (os dois últimos torneios marcaram as suas primeiras participações).
E não é que não só fez isso mesmo como está a brilhar e a quebrar barreiras atrás de barreiras? Depois de vencer Vania King na eliminatória inaugural, Mihaela Buzarnescu já deixou pelo caminho Rebecca Peterson e, mais recentemente, a quarta cabeça de série e uma das grandes candidatas ao título, Elina Svitolina. Tudo isto sem perder qualquer set: 6-3, 6-3, 6-1, 6-2, 6-3 e 7-5. Este domingo vai lutar pelo apuramento para a segunda semana de Roland Garros, que arrancará na segunda-feira com os encontros da quarta ronda.
Conto de fadas? Não, nada disso. Quanto muito, um conto de doutora. E um que vale a pena continuar a acompanhar enquanto a terra é pisada nos courts de Roland Garros. Afinal, esta já é uma das melhores histórias da 122.ª edição do Grand Slam parisiense.