A participação de singulares de João Sousa em Roland Garros chegou ao fim esta terça-feira. O português nunca conseguiu jogar a bom nível, tendo bastantes dificuldades em fazer a diferença frente a Guido Pella o que fez com que a eliminação fosse o seu destino.
Horas depois do encontro e já de cabeça fresca, Frederico Marques respondeu às questões por nós enviadas e falou de tudo o que se passou desde a vitória do Millennium Estoril Open, da prestação do seu pupilo em Paris e do porquê da despedida logo na primeira ronda.
Sincero como sempre começou por recordar que “sou uma pessoa muito frontal, uma pessoa muito directa”, abordando de seguida o encontro em si.
“Tanto ontem como hoje faltou tudo… mas atenção que não é o fim do mundo, deveremos aprender. Vamos ter mais competições nas próximas semanas e meses. Para não falar do dia de amanhã na variante de pares. A carreira de um jogador não se baseia numa vitória ou uma derrota num Grand Slam“, comentou, recordando que o vimaranense está a ter para já a melhor época de sempre e que é importante não esquecer isso só por causa de uma derrota precoce num torneio deste nível.
“Somos humanos e estamos perante o nosso melhor ano no circuito. Continuamos dentro do top 15 de jogadores com mais vitórias desde que o ano começou. É sinal de nível e regularidade. Deveremos aprender os dois com este passado recente”, declarou.
De seguida foi tempo de falar do porquê da derrota e da influência do sucesso e enorme desgaste emocional que vieram da semana de sonho no Clube de Ténis do Estoril.
“Existiu um grande desgaste emocional após a vitória em Portugal. Um feito histórico para muitos, mas no qual eu sempre avisei que era apenas um torneio. O circuito não perdoa e não perdoou. Existiu um pique emocional. Um objectivo muito desejado cumprido e a intenção e determinação nas semanas seguintes estiveram presentes mas não da mesma maneira. Um acto inconsciente. Deveremos aprender que não vivemos da história mas sim do bom nível emocional, físico e vitórias a nível internacional”, disse o técnico de 31 anos.
“Eu aprendi que o João é uma máquina mas foram demasiadas semanas seguidas a competir a grande nível. Hoje em dia somos melhores jogadores, temos mais intensidade, maior velocidade de bola mas também deveremos descansar mais porque vencemos mais encontros. Descansar é treinar. Dias sem ténis é treinar. Sem frescura mental o corpo não tem enquadramento”, constatou, enumerando posteriormente os vários aspetos que levaram a este resultado em Roland Garros.
“Nas últimas semanas não tivemos a frescura física que necessitávamos para estar competitivos ao mais alto nível. Não tivemos a frescura mental para poder controlar a ansiedade de jogar um Grand Slam. Não tivemos bem em termos de dinâmica com a bola. Não tivemos enquadramento e pouca ocupação do espaço em relação ao adversário. Em termos de reação estivemos muitos furos a baixo do habitual. O João é um dos jogadores que melhor responde no circuito e tal não aconteceu nos últimos dois dias. Não foi o adversário que fez o melhor encontro da vida dele no capítulo do serviço, mas sim nós estivemos uns foros a baixo”, considerou o lisboeta.
As condições com que João Sousa chegou a Paris não foram as melhores segundo admite o próprio Frederico Marques, ele que como treinador não teve qualquer receia em assumir a culpa por isso.
“Definitivamente não chegámos nas melhores condições a um torneio importante. Erro meu, apenas meu. A única coisa que perdemos foram três quilos de massa muscular nas últimas semanas por cansaço extremo. Um sinal do corpo… De resto o dinheiro, os pontos o próprio encontro não se perdeu… simplesmente não se ganhou… visto que nunca foram nossos. Tem que se ir para ganhar”, relatou o responsável pela orientação do número 1 português.
Apesar da frustrante derrota em Paris, o balanço da época de terra batida não deixa de ser positivo, ele que recorda que a época não fica por aqui.
“Fizemos uma boa primeira fase de terra batida com uma meia-final, um campeão na variante de singulares e um vice-campeão de Master 1000 em pares em semanas consecutivas. Mas o circuito exige mais regularidade. Estamos de parabéns por metade do trabalho e por ter aprendido. A corrida continua, estamos numa corrida de larga distância não nos podemos esquecer”, conclui o treinador do melhor jogador português de todos os tempos.