Opinião: A chapada de luva branca de João Sousa

Joao Sousa MEO18

Começo este texto ainda na ressaca de um domingo esgotante, mas altamente produtivo, e ainda a tentar medir a magnitude do feito alcançado por João Sousa. Confesso que é algo que me ultrapassa.

Todos os títulos têm as suas especificidades e um contexto que os torna especial, mas aquele conquistado ontem (domingo), em casa, num estádio Millennium a rebentar pelas costuras, é inevitavelmente o mais importante (e especial) dos três que João Sousa já conquistou.

Jogar em casa, num Millennium Estoril Open onde até então nunca havia passado do encontro de estreia, e agora que passou só parou com o troféu nas mãos, perante a família, amigos, público português e patrocinadores tem, diga-se o que se disser, sempre alguma dose de pressão.

E foi, talvez, ainda a tentar libertar-se desses resquícios de pressão que João Sousa entrou em court para defrontar Daniil Medvedev na primeira ronda. A barafustar, com alguma tensão e quiçá com o histórico de participações anteriores ainda a povoar o seu pensamento.

Mas à medida que esse encontro se foi desenrolando, e depois da batalha titânica com Pedro Sousa na ronda seguinte, João Sousa, mais do que qualquer outra pessoa, talvez tenha pensado que podia mesmo ganhar o torneio. Um torneio ATP 250 jogado dentro de portas que ainda carecia de vencer português. Foi João Sousa, inevitavelmente.

Joao Sousa B
O peso da bandeira portuguesa. O peso de um país a torcer por si. João Sousa é o novo campeão do Millennium Estoril Open

Durante algum tempo estive reticente em também eu escrever o que ia lendo e ouvindo pelos vários órgãos de comunicação social, ainda que o fizesse em algumas ocasiões. “João Sousa, o melhor tenista português de todos os tempos”. Devo dizer que a minha relutância se prendia unicamente por “de todos os tempos” ser muito tempo (passo a lapalissada) e de ninguém conseguir prever como estará o ténis português daqui a 20, 30 ou 40 anos.

Só que o João Sousa que eu tive o privilégio de ver esta semana a derrotar um a um e de forma estóica, abnegada, compenetrada, em suma, “na raça”, os adversários que lhe foram saindo ao caminho deixou-me rendido. João Sousa consolidou a sua posição no trono do ténis português, com a conquista do troféu que mais ambicionava.

Este título de João Sousa foi ganho para ele e para os seus e para os fãs portugueses, não foi ganho contra ninguém nem para mostrar o que quer que fosse, porque tal não era preciso. Ora essa.

Quem fez os sacrifícios que ele fez em tenra idade para agora poder estar onde está, quem tem uma carreira que fala por si e quem tem pulverizado todos os recordes do ténis português, não precisa de provar mais nada.

Mas permitam-me considerar que este saboroso troféu é uma chapada de luva branca do melhor tenista português de todos os tempos àqueles que, ao longo dos anos, têm aparecido nos momentos em que é mais fácil criticar. Duas, três, quatro derrotas consecutivas, eis que toca a campainha das críticas sujas e é um ver se te avias. É ver quem bate mais e quem consegue ser mais corrosivo.

Sabem qual é o “problema”? O João habituou-vos (nos) mal. Mas ele continuará a fazer história por esse mundo fora, estou certo, e quem sabe novamente em Portugal.

Frederico Marques, o ironman inquebrável

Não poderia libertar este texto de opinião para o público sem me dirigir a Frederico Marques, o treinador, mas mais do que isso, um grande amigo de João Sousa. Nos bons e nos maus momentos.

Falei com Frederico Marques uma ou duas vezes, por mensagens via internet, sobre uma ou outra exibição do João e atento assiduamente nas declarações que nos vai prestando quando solicitado.

Parece-me uma pessoa calma, ponderada, terra a terra, sem se deixar levar por críticas desmesuradas e com plena confiança no trabalho que desenvolve diariamente com o seu pupilo. Também Frederico Marques tem uma grande responsabilidade neste título do João (e em todos os seus feitos).

É certo que não é Frederico Marques que se equipa para ir a jogo. Mas é ele que conversa, que aconselha, que transmite todo o seu conhecimento tático sobre os adversários ao João, que prepara o jogo como poucos. E tem 31 anos. É um dos treinadores mais jovens do circuito.

Também ele está de parabéns!

P.S.: Este texto é o primeiro serviço de uma nova rubrica de opinião assinada pelos redatores do RAQUETC. Uma lufada de ar fresco neste nosso/vosso espaço, que terá mais novidades brevemente.

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