Roger Federer. Uma e outra vez, Roger Federer. Ou, neste caso, vinte vezes: porque o tenista suíço derrotou Marin Cilic, pelos parciais de 6-2, 6-7(5), 6-3, 3-6 e 6-1, para vencer o Australian Open pelo segundo ano consecutivo e chegar aos 20 títulos em torneios do Grand Slam — um feito nunca antes alcançado no circuito masculino.
Pronto a fazer (mais) história. Foi assim que o jogador helvético de 36 anos se apresentou desde o primeiro segundo em que pisou a Rod Laver Arena. Determinado em levar para casa o título de campeão do Australian Open pela sexta vez na carreira e, mais do que isso, a chegar a uma marca nunca antes vista no circuito masculino. Enquanto do outro lado, a jogar uma final do Grand Slam pela segunda vez nos últimos três eventos, o tenista croata apresentou um nervosismo caricato que demorou a desaparecer.
O momento era de extrema importância, pelo que um passo em falso poderia significar uma grande montanha para escalar. E Marin Cilic que o diga: ao ser quebrado nos seus dois primeiros jogos de serviço, o novo número 3 mundial depressa se viu impossibilitado de fazer frente a um Roger Federer que nos três primeiros jogos já lhe tinha ganho mais pontos no serviço do que, por exemplo, João Sousa em todo o encontro da segunda ronda — o que demonstra o quão sólido o croata vinha a ser até à final.
Mas o presságio do parcial inaugural foi sol de pouca dura e aos poucos tudo começou a mudar. Foi, na verdade, uma final atípica, muito atípica, em que apenas às duas horas e meia de jogo se começou a produzir bom ténis. E aí a maré mudou. O tenista croata de 29 anos, que na próxima segunda-feira será o número 3 mundial, aproveitou uma clara quebra de rendimento de Federer para elevar o seu jogo e, com os níveis de confiança a aumentar, dar um rumo inesperado ao encontro.
Inesperado porque ao 3-2 (com um break) do quarto set já a vitória de Roger Federer se escrevia. Pelo meio, o helvético tinha apenas tido um “pequeno” percalço que resultara na perda do tiebreak do segundo set, e disso não passaria. Mas não. Marin Cilic quis ter uma palavra a dizer e apagar da memória aquela final de Wimbledon, que há seis meses perdera em parciais diretos e sem dar sinais do seu verdadeiro jogo.
Desejo pedido, logo realizado: num piscar de olhos, o rumo do encontro mudou e o tenista croata passou a estar na frente. Não do marcador (mas por pouco, porque teve dois break points logo a abrir), mas psicologicamente, e isso permitiu-lhe “abanar” o adversário. Federer viu-se em apuros, tremeu e terá certamente pensado no cenário de há um ano, quando esteve a perder por 1-3 para Rafael Nadal no duelo decisivo.
Se terá sido esse o pensamento que o fez regressar o encontro, poderemos nunca vir a saber, mas no segundo jogo o campeão em título lá se recompôs para, com uma quebra de serviço, voltar a tomar sua a liderança do marcador. A partir daí, não mais o barco tremeria e seria uma questão de tempo até Roger Federer navegar por mares nunca antes navegados e celebrar. Pela 6.ª vez em Melbourne, 20.ª em torneios do Grand Slam. E é disso que agora falamos:
História com tinta dourada
A final deste domingo era aguardada com grande expetativas por nela se fazer história. Independentemente do vencedor, isso aconteceria. E se Marin Cilic procurava tornar-se no primeiro tenista croata — homem ou mulher — a conquistar o título de singulares no Australian Open, Roger Federer queria (e conseguiu) chegar onde nunca ninguém tinha chegado:
É que o título deste domingo traduz-se no sexto do suíço de 36 anos em Melbourne, que lhe permite igualar Novak Djokovic e Roy Emerson na lista de maiores campeões do torneio mas, mais do que isso, tornar-se no primeiro jogador masculino de sempre a conquistar 20 títulos em torneios do Grand Slam.
Como Federer, ou até melhor, só três jogadoras do circuito feminino: Margaret Court, que entre o período anterior à Era Open e o atual ergueu 24 troféus de campeã, Serena Williams, que tem 23, e Steffi Graf, que conquistou 22.
E há ainda uma outra lista na qual Roger Federer iguala outros dois jogadores: é que o suíço é apenas o 3.º homem na Era Open a ganhar 4 ou mais torneios do Grand Slam depois de fazer 30 anos (Wimbledon 2012 e 2017, Australian Open 2017 e 2018), juntando-se a uma lista onde constam apenas Rod Laver e Ken Rosewall.