Há, nos olhos de Hyeon Chung, um brilho especial. O de um rapaz a cumprir um sonho de criança, mais surpreendido do que todos os outros com o que está a fazer. E não é para menos: aos 21 anos, o sul-coreano está nas meias-finais do Australian Open, tornando-se no primeiro tenista do seu país a chegar tão longe num torneio do Grand Slam.
Para continuarmos a falar de Chung talvez tenhamos de recuar alguns anos: no final de 2015, época em que foi distinguido pela ATP como o tenista com melhor evolução, o jovem sul-coreano cumpriu quatro semanas de serviço militar junto do Exército da Coreia do Sul, que à data contava com cerca de meio milhão de soldados inscritos.
E se foram apenas 4 — e continuou no circuito a tempo inteiro –, foi porque Hyeon Chung brilhou nos Jogos Asiáticos de 2014 ao conquistar a medalha de ouro em pares. Caso contrário, o jovem tenista teria de seguir a constituição e completar pelo menos 21 meses de serviço militar entre os 18 e os 35 anos de idade.
De resto, diz-nos a história que começou no ténis depois de, aos seis anos, ser aconselhado por um médico a praticar o desporto de forma a combater o astigmatismo. “Disse-me que seguir uma bola amarela ia fazer bem à visão. E que jogar ténis era melhor do que estudar.” O resto, sabemos, é história: a solução encontrada como combate ao astigmatismo transformou-se numa história de amor, Chung nunca mais parou de jogar e entretanto colocou-se na posição de lutar por ser cada vez mais um dos melhores do mundo.
Até que chegamos ao Australian Open 2018, a quinzena em que mais está a brilhar — mas longe de ser a primeira, ou não tivesse ele chegado a Melbourne como número 58 do ranking e com o estatuto de primeiro campeão do Next Gen Finals. A realizar um torneio “de sonho” (foi o próprio quem o referiu depois de derrotar Novak Djokovic na ronda anterior), Hyeon Chung bateu esta quarta-feira a outra revelação do torneio, o norte-americano Tennys Sandgren, por 6-4, 7-6(5) e 6-3 ao cabo de 2h28 de encontro.
No que é que isso se traduz? No seu primeiro apuramento para as meias-finais de um Grand Slam, que é também o primeiro da história quer de uma, quer de outra Coreia, e um sexto encontro em Melbourne Park: ou frente a Roger Federer, ou frente a Tomas Berdych, os dois jogadores que medem forças na sessão noturna desta quarta-feira (8h de Portugal Continental).
Independentemente do que aconteça na sexta-feira, Hyeon Chung já sabe que leva para casa mais uma marca história: será, a partir de segunda-feira, pelo menos o número 29 do ranking, uma posição nunca alcançada por um tenista do seu país. Ah, e é o tenista mais novo a chegar às “meias” do Australian Open desde Marin Cilic, em 2010, e o “pior-rankeado” desde o número 86 Marat Safin, em 2004, a alcançar as meias-finais.