A história, os números, o público e o quadro a seu favor. Quando entrou na Rod Laver Arena na noite desta quarta-feira, Roger Federer tinha sobre os ombros uma pressão como há muito não sentia em Melbourne. Talvez mesmo em qualquer palco. E isso sentiu-se, até que o suíço juntou as peças e se reencontrou com o seu ténis para derrotar Tomas Berdych (7-6[1], 6-3 e 6-4) e repetir as meias-finais, onde chega pela 14.ª vez. Um registo histórico, como outros que hoje alcançou.
Porque no dia anterior o Australian Open perdera o número 1 mundial (Rafael Nadal, que desistiu em pleno quinto set quando já perdia para Marin Cilic) e, também, o vencedor do último ATP Finals (Grigor Dimitrov), a pressão passava toda para o lado do helvético. Se na antevisão ao torneio tentava fugir ao favoritismo absoluto, dizendo que aos 36 anos um jogador não o devia ser, com as eliminações dos principais rivais deixou de ter como lhe fugir.
Ora Tomas Berdych, que anda no circuito há muitos anos, estava perfeitamente a par da situação e entrou no maior court de Melbourne Park com a lição bem estudada. O checo, sempre humilde e ainda em busca do primeiro título num Grand Slam, já tinha “avisado” que sabia o que é derrotar Roger Federer num dos quatro maiores torneios do calendário e pisou o campo com esse mesmo objetivo.
Pressionou desde o primeiro instante e, de forma irrepreensível, chegou em primeiro lugar ao break, que mais tarde – e graças a um ténis muito, muito agressivo – lhe deu duas oportunidades para fechar o set e “fugir” no marcador. Mas frente a Federer, já se sabe, nada está ganho antes da última pancada e o suíço conseguiu protagonizar uma recuperação que culminou num tie-break irrepreensível.
E a partir daí o resto foi história: à semelhança da grande maioria dos encontros anteriores (até esta quarta-feira, o registo entre ambos era favorável ao número 2 mundial por 19-6), foi Roger Federer quem ditou e comandou o desenrolar do encontro, sendo uma questão de tempo até carimbar a vitória.
Para trás, ficou a desilusão demonstrada durante vários momentos do parcial inaugural, uma discussão com o árbitro de cadeira devido a problemas técnicos no sistema de revisão de chamadas e a apatia inicial. Para a frente, um conjunto de recordes:
– A vitória frente a Tomas Berdych traduz-se na 92.ª da carreira no Australian Open para Roger Federer, o Grand Slam onde passa a somar mais triunfos (tem 91 em Wimbledon);
– E permite-lhe chegar às meias-finais em Melbourne pela 14.ª vez, um registo nunca alcançado por outro jogador na Era Open (bem como as 43 meias-finais e os 52 quartos de final);
Porque “velhos são os trapos”, aos 36 anos e 173 dias Roger Federer torna-se, também, no jogador mais velho a alcançar as meias-finais do Grand Slam australiano desde que Ken Rosewall o fez em 1977, quando tinha 42 anos e 68 dias. E o mais velho desde o norte-americano Jimmy Connors (39 anos e 6 dias) no US Open de 1991 a chegar às meias-finais de um Grand Slam.
Batalha de gerações é o desafio que se segue
Nas meias-finais, Roger Federer terá como adversário Hyeon Chung. Se o suíço, com 36 anos, está mais do que habituado a estas andanças e quer aceder à final do “Happy Slam” pela sétima vez na carreira (e, depois, tentar igualar os 6 títulos de Novak Djokovic e chegar ao tão desejado 20.º Grand Slam), aos 21 anos o sul-coreano está a viver uma quinzena inédita… E de sonho.
Para se estrear em meias-finais, derrotou Tennys Sandgren na madrugada desta quarta-feira, mas antes já tinha surpreendido – e de forma consecutiva – Alexander Zverev e Novak Djokovic para garantir o melhor resultado de sempre para o ténis do seu país.