Entrevista a Vasco Pascoal: as quinas ao peito, a relação com os parceiros e os sonhos que ainda tem

Fotografia: Fernando Correia/Smash Padel

Vasco Pascoal. De uma raquete a outra raquete, começou no ténis e agora é jogador de padel profissional. Tem quatro títulos de campeão nacional — o último dos quais conquistado este ano, um momento que recorda com emoção e uma enorme alegria — e faz parte de uma seleção que continua a quebrar barreiras e a estabelecer-se cada vez mais como uma das melhores do planeta. Aos 28 anos, ainda tem muito para dar e conquistar. Esta é a segunda parte de uma grande entrevista ao Raquetc (a primeira pode ser lida aqui).


 

ENTREVISTA

– Terminado mais um Campeonato da Europa, este em solo português, que análise fazes à tua participação? E à de Portugal?

Penso que a minha prestação foi boa, estive muito constante ao longo do europeu e ouvindo opiniões de amigos também me disseram o mesmo. Por isso, estou feliz por ter ajudado da melhor maneira Portugal a atingir o objetivo.

Portugal fez um europeu extraordinário, não perdeu nenhum set até chegar a final. Na final perdemos 3-0, que era esperado, mas batemo-nos bem e não envergonhámos as nossas cores.

– Pegando no teu comentário, ao longo da semana viu-se um grande domínio de Portugal mas depois nas várias finais contra a Espanha a diferença ainda se notou. O que é que falta? É a tal “ida para fora” mais constante de que falaste, para treinarem mais vezes com os melhores?

Ir para fora vai ajudar-nos a melhorar o nosso nível até porque é em Espanha que estão todos os jogadores. Para treinarmos com eles e estarmos mais vezes nesse nível. Mas acho que a principal diferença também tem a ver com os anos de padel, porque todos os espanhóis jogam há mais do triplo de anos que nós. Quando nós começámos, muitos deles já eram top 10 World Padel Tour. Mas claro que o ritmo, a intensidade, a leitura jogo, o conhecimento e a experiência fazem com que para já seja fácil ganhar-nos.

É um sonho de criança dormir na aldeia olímpica!

– E o que é que significa jogar por Portugal?

Para mim é bastante importante representar a seleção. Desde miúdo que é assim, os meus pais também tinham um bocado aquele sonho de que eu pudesse representar Portugal nos Jogos Olímpicos no desporto que escolhesse e então eu desde miúdo que fiquei muito ligado a representar Portugal. Ainda mais sendo em casa!

Fotografia: Fernando Correia/Smash Padel

– Nesse sentido, aproveito para te perguntar sobre o padel como modalidade olímpica, um assunto que tem vindo a ser cada vez mais abordado…

Acho uma excelente ideia, se bem que duvido muito que vá acontecer num futuro próximo. Mas penso que o padel é dos desportos onde há mais espectáculo e um dos desportos que as pessoas gostam mais de ver, acho que ninguém se iria arrepender. É um sonho de criança dormir na aldeia olímpica!

– Os meses passam e são cada vez mais as provas com relevo internacional a serem organizadas por cá. O que é que tem feito com que sejamos escolhidos tantas vezes? É aquela boa hospitalidade que normalmente é reconhecida aos portugueses?

Acho que é a orgnização, principalmente. Todos os jogadores que vêm jogar um torneio a Portugal dizem que é o melhor torneio do ano. Vieram jogar o Challenger ao Club VII e disseram que pela organização era um Masters. Nós vamos jogar um torneio lá fora e um Challenger é entrar num clube e jogar, não tem mais nada. Aqui foi organizado com tendas, dois campos centrais, restaurante para os jogadores, tudo pago… Acho que passa um bocado por aí. Pela organização acho que somos mais fortes do que eles e então somos escolhidos.

– Pegando novamente na vitória no Campeonato Nacional e desse ‘gostinho’ final, vocês são todos muito competitivos mas depois parecem-me ser todos bastante amigos, ou pelo menos darem-se muito bem.

Somos, somos muito amigos. O Miguel [Oliveira] e o [João] Bastos são dois dos meus melhores amigos de infância, jogavam ténis comigo e são da minha idade. Já vivi com o Miguel em Espanha e sempre estive ligado a ele. O Bastos é do Porto mas também sempre estivemos ligados. O Diogo [Rocha] é mais velho do que eu quatro anos, eu fui apanha-bolas dele no Estoril Open, era tipo um ídolo no ténis.

Depois, no Padel, quando eu comecei a jogar ele já tinha sido campeão nacional, era muito melhor do que eu até que fui jogando, trabalhando e ele me convidou e pronto, ficámos muito, muito amigos.

Claro que há aquela rivalidade, quanto maior é o nível e o querer ganhar dentro do campo tu… Não vou mentir, eu pico-me muitas vezes com o Miguel dentro de campo e outros atletas também se picam entre eles, mas depois mais tarde sabemos distinguir e há sempre uma boa relação. Claro que há jogadores que têm mais rivalidade uns com uns outros mas há sempre respeito acima de tudo, até porque somos os mesmos na seleção. Já foi o mundial de há quatro anos, este de há dois, agora o Europeu e viajamos muito também para os mesmos torneios.

Fotografia: Smash Padel

– E essa rivalidade que há entre vocês, sentes que ajuda a que continuem a evoluir?

Claro, claro. Eu tenho sempre uma rivalidade, seja ela grande ou pequena, com o Diogo e com o Miguel que são os que estão no meu patamar. São aqueles com que eu vejo ah, ganhei!, ah, perdi!

Uma parceria é como uma relação amorosa, não basta dois jogadores jogarem bem

– O que é que procuras quando chega a hora de escolher um parceiro? E quais são as maiores dificuldades que enquanto jogador de padel sentes nesse sentido, ou seja, por não dependeres apenas de ti?

É um bocado como uma relação amorosa: acho que para a parceria dar tens de ter uma relação minimamente boa. Ou seja, falares ao telefone, como nós costumamos dizer na gíria, ‘mamar’ o parceiro, que é tipo estar nas publicações de Instagram, o que seja. Tem de haver uma boa relação para a coisa funcionar bem, não basta dois jogadores jogarem bem. Já vi muitas parcerias de jogadores que jogam muito bem mas que quase nem se falam e aquilo vai por água abaixo.

Por isso a parceria tem de ser um bocado assim. Lembro-me que quando eu jogava com o Diogo, ele nem é muito disso, só quer paz e descanso, e eu ligava-lhe três vezes por dia. Às vezes nem o deixava em paz. Penso que é importante, principalmente porque se estiveres ao lado de uma pessoa com quem te dás bem, e de quem és muito amigo e de que gostas, as derrotas não vão ser tão dolorosas. E sinto isso. Graças a Deus em Portugal joguei com o Diogo, o Miguel e o Bastos, que são muito meus amigos, e quando perdia não custava tanto, porque sabia que tinha um amigo ali ao lado. Isso é importante.

Sobre os patrocinadores:

É muito mais fácil do que no ténis, aqui não há limites. Podemos jogar com os patrocinadores que quisermos nos equipamentos

– E a nível tático, como é que é? Como há tantos torneios, quer nacional, quer internacional…

Nós já nos conhecemos muito bem. Quando jogava com o Diogo já estávamos há três anos, já sabia as bolas que ele ia fazer, onde é que eu me posicionava, já estava tudo mais ou menos sabido.

Também temos os estágios da seleção e tentamos treinar dois ou três dias antes dos torneios para ajustar os pormenores. Mas a tática é muito em função do adversário, ou seja, tentamos sempre basear-nos em relação ao adversário e aí fica mais fácil.

– Como é que é um treino vosso?

Depende. Às quartas e sextas-feiras temos treinos da Federação Portuguesa de Padel e depois podemos ter outros treinos: posso combinar com outros jogadores um jogo treino, às vezes fazer sets cruzados ou então carrinhos.

– E a questão dos patrocinadores? Começa a ser fácil terem apoio de marcas?

Mais ou menos. Começa a ser mais fácil mas também é muito por conhecimentos. Isto é, um aluno meu que conhece e fala, um amigo do meu pai que mostra, é um bocado assim. Mas é muito mais fácil do que no ténis, sim. No ténis o patrocínio que um João Monteiro tem, que é dos meus melhores amigos, é de roupa e de raquetes, até porque não podem ter como nós que temos o equipamento cheio de marcas. Aqui não há limites, podemos jogar com o que quisermos. Nas fotografias, nas filmagens, estamos com o equipamento cheio de marcas. Temos um bocado de “sorte” em relação a isso.

– Já conseguem ter uma certa almofada?

Já, já.

– Para terminar, que previsões tens para o padel a 5 e 10 anos? O que é que é e pode ser esse crescimento?

Pode ser mais clubes e também um grande aumento de nível. Acho que vai evoluir cada vez mais. Há cada vez mais clubes e oferta/procura, por isso vai desenvolver-se muito. Se calhar até estarmos perto de Espanha, não em dimensão mas à proporção.

Não pensem que dá para jogar padel e sair à noite todos os dias. Têm de se aplicar como noutro desporto qualquer.

– Um sonho? Ser quadro principal do World Padel Tour.

– Um palco onde querias mesmo jogar? Meo Arena, num Campeonato da Europa, do Mundo, um Masters World Padel Tour…

– Um momento que te tenha marcado? Este Campeonato Nacional com o Bastos.

– Uma mensagem para aqueles que venham a dar os primeiros passos no padel? A minha mensagem vai ser em termos de competição. Acho que têm de se aplicar como noutro desporto qualquer. Apesar de hoje em dia se verem pessoas com um físico não tão bom ou próprio de desportistas a jogarem, o padel é um desporto que cada vez mais se vai profissionalizar. Não pensem que dá para jogar padel e sair à noite todos os dias, ou fazer um treininho de vez em quando, porque cada vez mais há pessoas a jogar padel, não só em Portugal como nos outros países, e está a crescer muito. Isto significa que vão aparecer cada vez mais pessoas e por isso é preciso trabalharem muito para estarem na elite. Por isso, esforcem-se, apliquem-se e boa sorte!

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