Foi num ambiente à la Taça Davis que Juan Martin del Potro assinou esta terça-feira uma das vitórias mais épicas de que há memória — pelo menos no US Open. Em pleno Grandstand, o vice-campeão olímpico e vencedor do Major norte-americano em 2009 recuperou a desvantagem de dois sets a zero para derrotar Dominic Thiem, por 1-6, 2-6, 6-1, 7-6(1) e 6-4, e chegar aos quartos de final.
A história do encontro é, no mínimo, peculiar. Considerado pela maioria como o mais aguardado do dia — e dos oitavos de final –, o duelo entre o argentino e o austríaco rapidamente se tornou menos apelativo devido à forte febre que deixou del Potro em claras dificuldades. Curiosamente, há um ano tinha sido o austríaco a apresentar-se em baixa forma e mesmo a retirar-se, também nesta fase e num confronto entre ambos.
Muito cansado e sem capacidade de reagir às investidas que Dominic Thiem tomou rapidamente, por certo tomando conta da condição física do argentino, Juan Martin del Potro chamou, inclusive, os médicos do torneio ao court em várias ocasiões. E parecia estar prestes a ser um duelo sem muito para contar aquele disputado pela Torre de Tandil, que só ao 1-6, 1-4 conseguiu disparar o seu primeiro winner do encontro (isso mesmo, só a meio do segundo set).
Mas ténis é ténis e um ponto pode mudar tudo. Assim foi. Depois de “encaixar” facilmente os dois primeiros parciais, Thiem (número 8 do mundo) baixou ligeiramente o ritmo e viu o argentino (que esta semana partilha a idade, 28 anos, com o ranking) ir buscar energias onde se pensava já não existirem.
Isto porque o próprio pareceu, a dada altura, pareceu manter-se em campo apenas por puro respeito o adversário, consciente de que pouco conseguiria fazer para dar a volta a uma ronda e resultados que fugiam cada vez mais do seu alcance.
E assim foi: guerreiro, sempre guerreiro, o astro renasceu para o jogo e para o espetáculo. Começou, pouco a pouco, a recuperar algum do seu jogo e até o serviço apareceu, ajudando à festa da recuperação. Sim, festa, porque com o acordar do herói alviceleste as bancadas do Grandstand transformaram o duelo numa autêntica eliminatória da Taça Davis… Com apoio de sentido (praticamente) único.
Se é verdade que Dominic Thiem continuou a dar mostras do que é capaz de fazer — sobretudo quando conseguiu ficar um break acima no quarto set, como é exemplo este ponto –, passou a ser Del Potro quem mais bolas espetaculares disparou e aplausos arrancou. A servir a 5-6, enfrentou dois match points, que salvou de forma exemplar com dois tiros no seu saque. E o set point… O set point só visto.
Cada vez mais entusiasmados, os adeptos presentes no Grandstand apoiaram Juan Martin del Potro como verdadeiros argentinos, apesar do outro lado do campo estar um jogador que também é muito apreciado pelo público. E não era para menos: “do nada”, o ex-número 4 mundial começou a dar espetáculo com as suas pancadas e a causar muitas dificuldades a Dominic Thiem.
Jogo a jogo, o equilíbrio manteve-se, muito por conta dos três pontos de break salvos de forma exímia por parte do austríaco, que controlou na perfeição a intensidade das suas pancadas em três longas trocas de bola. Isto até ao 10.º jogo, em que del Potro encontrou, por fim, o segredo do sucesso.
O resto… É história. Nas bancadas do Grandstand, todos os espetadores se levantaram para aplaudirem de pé, gritarem e espernearem com a vitória de Juan Martin del Potro. Um guerreiro do ténis, que ao longo dos anos tem reunido cada vez mais apoiantes e volta a dar provas de todo o seu potencial e capacidades.
Uma vez mais em Nova Iorque: o palco onde se dá melhor, onde em 2009 venceu e onde já esta quarta-feira poderá voltar a medir forças com Roger Federer nos quartos de final, caso o suíço (que derrotou para conquistar o título há oito anos) supere Philipp Kohlschreiber no primeiro encontro da sessão noturna de hoje.