Rui Machado: “Sinto que já vesti o papel de treinador mas no início apetecia-me saltar para dentro do campo”

PORTO – Foi um Rui Machado muito bem disposto — como, aliás, é sua característica — aquele que encontrámos após a final de singulares do Porto Open. Acabado de ver João Monteiro (um dos atletas que integra o grupo de trabalho do CAR – Centro de Alto Rendimento) conquistar o troféu de singulares, um dia depois de Nuno Deus e Tiago Cação vencerem em pares, o tenista algarvio falou sobre o seu novo papel — o de Coordenador Técnico Nacional.

“Agora sinto que já vesti o papel de treinador e que já consigo analisar bem os momentos e focar-me mais em ajudar o atleta a ultrapassar a situação do que querer resolver”, conta-nos Rui Machado, que entre muitos outros marcos estabelecidos no ténis português chegou a ser o número 59 do mundo.

Depois, recorda, entre risos, que “no início apetecia-me saltar para dentro do campo e resolver o assunto. Uma das minhas virtudes é a boa capacidade de adaptação mas confesso que no princípio foi um pouco diferente e difícil lidar com o nervosismo de estar cá fora e não poder fazer nada.”

No dia em que anunciou que se preparava para largar as raquetes — na verdade, fazer tudo menos isso, porque “apenas” mudou o chip de jogador para treinador –, o algarvio de 33 anos disse que “cumpri o sonho de qualquer criança que começa a jogar ténis”. E apesar de alguma hesitação, porque o cargo de diretor nacional de ténis leva-o a treinar jogadores já inseridos em grupos de competição, acaba por afirmar que sim, que o trabalho passa por “tentar fazer com que os jogadores possam cumprir os seus sonhos.”

E recorda que “não é fácil, não é nada fácil”, mas rapidamente tece elogios ao grupo com que trabalha e no qual acredita. “Os atletas do CAR são jogadores que já escolheram esta vida e estão naturalmente motivados e pré-dispostos a aprender, trabalhar e fazer muitos sacrifícios para que estes resultados apareçam.”

Rui Machado segue atentamente o desenrolar da final de singulares masculinos do Porto Open, que João Monteiro acabaria por vencer. Ao seu redor, Nuno Deus, Tiago Cação (campeões de pares) e Francisco Cabral). Mais atrás, de vermelho, está também Leonardo Tavares, um antigo campeão do Porto Open e outro nome grande do ténis português.

Num fim de semana de sucesso para o ténis português — a variante masculina do Porto Open terminou com campeões lusos em ambas as finais –, Rui Machado diz que “nenhum resultado aparece por acaso. Aparece sim porque há muito trabalho, dedicação, entrega que muitas vezes não se vêem, e também muito trabalho da equipa que os próprios atletas não vêem. E é este conjunto que tem feito a diferença na evolução dos nossos jogadores.”

Chegar à meta, claro, não é fácil, mas são cada vez mais os tenistas portugueses que alcançam resultados de destaque pelo mundo fora e Machado salienta que “apesar deste projeto da Federação Portuguesa de Ténis ter relativamente pouco tempo, penso que isto começa a demonstrar que o apoio aos torneios Future tem dinamizado muito o ténis e começam a ver-se grupos novos formados para competir, clubes a reorganizarem-se para darem resposta a este fenómeno e isso é muito positivo para o ténis.”

A conversa não terminou assim — o episódio que agora relatamos aconteceu algures entre as várias perguntas que colocámos a Rui Machado –, mas para efeitos da peça não vemos nenhum transtorno em colocarmos aqui a referência: o abraço trocado com João Monteiro à saída do court central do Clube de Ténis do Porto reflete o trabalho e o investimento que estão a ser feitos no ténis nacional.

Rui Machado e Neuza Silva, dois nomes grandes do ténis português enquanto jogadores, são agora responsáveis pelos grupos masculino e feminino do Centro de Alto Rendimento, no Jamor. Depois de adquirirem conhecimentos mundo fora, são os responsáveis pela passagem de testemunho, pela aprendizagem, pelo entrosamento e construção de carreiras. Uma aposta que já dá frutos.

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