Feliciano Lopez tem trinta e três anos e é um dos melhores jogadores da história do ténis espanhol. Atualmente, ocupa o décimo quarto posto da hierarquia mundial masculina (o seu melhor ranking de sempre) e é detentor do recorde nacional de participações consecutivas em torneios do Grand Slam; em 2005, tornou-se no primeiro jogador do seu país desde Manuel Orantes em 1972 a atingir os quartos-de-final de Wimbledon, na sua superfície favorita.
Esta semana, é o grande entrevistado do Ténis Portugal e fala à nossa equipa da sua evolução, dos objectivos para o próximo ano e ainda da Taça Davis.
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Entrevista
- Ténis Portugal: A Espanha é vista como um óptimo centro de treino e preparação mas tu, curiosamente, preferes superfícies mais rápidas. Isto foi um obstáculo? Podes falar-nos um pouco da tua evolução como jogador até chegares a profissional?
Feliciano Lopez: Apesar de existirem muitos mais campos de terra batida em Espanha, comecei a jogar ténis em Madrid em piso rápido e assim construí o meu jogo em torno desta superfície. Sempre gostei de jogar um ténis ofensivo portanto mantive o meu jogo praticamente igual em todas as superfícies.
- Ténis Portugal: Deténs o recorde espanhol de 51 participações consecutivas em torneios do Grand Slam. Qual é a importância que esta consistência tem para ti, o que é que te revela?
Feliciano Lopez: Este é sem dúvida um dos feitos de que estou mais orgulhoso. Penso que demonstra consistência e empenho. Ao longo da minha carreira trabalhei muito para me manter em boa forma e isso tem como resultado ter a sorte de conseguir competir com a elite por muito tempo.
- Ténis Portugal: 2014 foi, arriscamos dizer, a tua melhor época ao nível individual por todas as novas barreiras quebradas. O que é que mudou do ‘Feliciano de 2013’ em relação ao ‘Feliciano de 2014’?
Feliciano Lopez: A maior mudança que fiz e que me levou ao meu melhor ranking de sempre foi tornar-me mais consistente. No passado eu tinha algumas dificuldades em manter-me ao mesmo nível por tantas semanas consecutivas, pelo que melhorar isso era um dos grandes objectivos para 2014 e estou contente por ter resultado.
- Ténis Portugal: Uma das consequências desta época foi, aliás, o término na décima quarta posição do ranking mundial – a tua melhor de sempre. Era um dos teus objectivos principais entrar no top15? Até onde esperas e queres ir?
Feliciano Lopez: O meu objectivo é continuar em forma e competitivo. Se for capaz disso, acredito que tenho possibilidades de chegar ao top10. É muito difícil mas é um grande sonho meu e vou dar o meu melhor. No entanto, à frente de qualquer lugar no ranking quero aproveitar a competição e jogar bem nos grandes torneios.
- Ténis Portugal: Na fase final da época atingiste duas meias-finais em torneios da categoria Masters 1000, eventos que muitos dos jogadores descrevem como ‘dos mais difíceis de vencer porque todos os melhores se defrontam numa só semana’. Conquistar uma prova destas é o ‘próximo passo a dar’? Como analisas o teu percurso nos M1000?
Feliciano Lopez: Os torneios Masters 1000 são complicados porque o nível é muito elevado desde a primeira ronda mas ao mesmo tempo é para isso que treinamos. Felizmente tenho um bom registo nos maiores torneios e contra os jogadores de topo, portanto estou sempre entusiasmado em relação a frente-a-frente complicados.
- Ténis Portugal: O próximo ano terá uma temporada de relva com uma importância relativamente maior. Neste momento e sobretudo tendo em conta o teu estilo de jogo e a fase da carreira em que te encontras, é uma mudança que te deixa feliz? Sentes que o ténis precisa de um ligeiro ‘regresso’ às origens ou os campos mais lentos não te incomodam?
Feliciano Lopez: É um passo dado na boa direcção. O ténis deve ser jogado em superfícies diferentes e ter uma temporada para cada. O ténis jogado em relva é muito entusiasmante para os fãs e é um estilo de jogo que requer habilidades, força e táctica. Sou completamente a favor de se adicionarem semanas extra em relva e estou ansioso por ter mais uma grande época em 2015.
- Ténis Portugal: As trocas no comando da equipa espanhola da Taça Davis acabaram por receber muitas atenções um pouco por todo o mundo. Defender as cores do teu país continua a ser uma prioridade? O que nos podes dizer sobre isto?
Feliciano Lopez: Jogar pelo meu país na Taça Davis sempre foi uma prioridade ao longo da minha carreira e estou muito orgulhoso por ter representado a Espanha ao longo de dez anos e ter ganho o troféu três vezes. Vou sempre dar o meu melhor para competir pela Espanha, no entanto penso que a minha geração (David Ferrer, Fernando Verdasco e até mesmo Rafael Nadal) devia passar o testemunho aos mais novos de uma forma progressiva. O calendário e a minha idade fazem com que se torne muito complicado continuar a encarar [a competição] como uma prioridade, mas vou sempre tentar juntar-me à causa quando possível.
- Ténis Portugal: Como vês o ténis espanhol neste momento? Se no circuito ATP houve um certo contraste (o Rafa e o David viveram um ano menos bom enquanto tu atingiste marcos históricos na tua carreira), no circuito feminino a Garbine Muguruza desperta cada vez mais atenções…
Feliciano Lopez: Temos tido tanta sorte ao ter uma geração de tenistas tão bons que penso que a dada altura se tornará impossível igualá-la. Espero que a Federação construa uma estrutura para as gerações futuras e as apoie porque elas vão precisar disso. As raparigas estão a sair-se bem, sem dúvida, e espero que continuem a brilhar no futuro.
- Ténis Portugal: Fugindo às ‘regras’ do circuito… Se pudesses formar parceria para um jogo de ténis com uma qualquer (homem ou mulher) figura do ténis, quem escolherias e porquê?
Feliciano Lopez: Tenho tido a sorte de jogar lado a lado com jogadores muito bons e tive bons resultados com o Fernando Verdasco. Gosto do jogo de pares e seria bom jogar com qualquer um que partilhe a mesma paixão e saiba servir, responder e executar volleys.
- Ténis Portugal: Bem… A verdade é que és também muito conhecido pela alcunha ‘Deliciano’ e tens um grande clube de ‘fãs’ pelo mundo fora. Como lidas com estes comentários e seguidores?
Feliciano Lopez: Agradeço todo o apoio dos meus fãs, é muito bom saber que me apoiam. Alguns comentários são obviamente mais mediáticos mas acredito que os fãs interajem comigo e me seguem porque gostam do meu jogo e da minha personalidade e isso deixa-me muito feliz.
- Ténis Portugal: Em maio, Lisboa encheu-se de Los Blancos, que acabariam por festejar ‘Lá Décima’. Pelo que sabemos, tens um carinho especial pelo futebol. Já tiveste oportunidade de ver alguma equipa portuguesa em acção? Conheces o nosso futebol?
Feliciano Lopez: Eu gosto muito de futebol portanto claro que sigo as equipas portuguesas, há um grande historial [de resultados] desde os tempos do Eusébio. Portugal teve muitos jogadores bons depois dele, como o Futre, Figo e o Cristiano Ronaldo. O Benfica, Porto e Sporting têm dominado o campeonato ao longo dos anos e gosto do estilo de jogo ofensivo das equipas [portuguesas].
- Ténis Portugal: Por fim, já tens objectivos definidos para a temporada de 2015? O que é que gostarias de atingir?
Feliciano Lopez: Ser competitivo em todos os torneios e tentar chegar às minhas primeiras meias-finais num torneio do Grand Slam, ou melhor!
E agora… Algumas curiosidades:
- Ténis Portugal: Adversário mais difícil que já tiveste pela frente? Feliciano Lopez: Roger Federer
- Ténis Portugal: Melhor vitória da tua carreira? Feliciano Lopez: Talvez sobre o [Juan Martin] Del Potro na final da Taça Davis na Argentina, porque nos deu a hipótese de vencer a nossa primeira e única final fora de casa até hoje.
- Ténis Portugal: O teu torneio/estádio de eleição?Feliciano Lopez: Centre Court de Wimbledon.
- Ténis Portugal: Consegues dizer-nos quem é a jogadora mais bonita do circuito WTA? Feliciano Lopez: Há algumas mas, e sendo um cavalheiro, vou apenas dizer-vos quem é a mais divertida: Andrea Petkovic.
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Bom artigo/entrevista. Parabéns.