O Ténis Portugal esteve presente no Club Internacional de Foot-Ball de domingo a sábado para cobrir o Campeonato Nacional Absoluto de Ténis/Taça Guilherme Pinto Basto como ninguém. No entanto, e estando a competição inserida na segunda edição da Semana do Ténis e do Padel, não nos quisemos limitar à prova rainha. Por isso, estivemos à conversa com Joaquim Nunes, coordenador do ténis em cadeira de rodas da Federação Portuguesa de Ténis.
Um dia antes de ver Carlos Leitão sagrar-se novamente campeão nacional, Nunes explicou à nossa equipa que “em Portugal não há muitos jogadores, no máximo temos oito a jogar a competição”, sendo que no Campeonato Nacional estiveram “apenas quatro porque os outros quatro não puderam vir jogar”, o que justificou que a prova fosse disputada num formato de round robin em que cada um dos atletas realizava três partidas.
Tal como o de atletas, também o número de clubes que trabalham ténis em cadeira de rodas é reduzido, como enuncia Nunes: “Há apenas quatro clubes porque também não há muita gente a procurar jogar ténis em cadeira de rodas. Existem algumas dificuldades que não estão relacionadas com a modalidade em si, por nem todos serem autossuficientes mas também ao nível de clubes e isso pode resumir-se a uma única palavra, que é ‘acessibilidade’.”
A acessibilidade que refere não é, no entanto, apenas física ou arquitectónica, como explica: “Trata-se também do clube, da disponibilidade que tem para ter treinadores com vontade de trabalhar com estas pessoas e de ter a capacidade de as integrar no trabalho normal de um clube; de fazer com que elas possam trabalhar da mesma forma porque tecnicamente não há grandes diferenças — há um condicionalismo porque estão sentados e a cadeira limita um pouco o movimento mas de resto é quase tudo igual, a nível técnico um treinador que tenha feito a sua formação na Federação está habilitado a treinar ténis em cadeira de rodas.”
Se “os clubes muitas vezes não têm uma abertura para disponibilizar bens humanos e espaciais para que as pessoas possam fazer a sua prática física”, em contrapartida “a Federação tem feito uns programas muito interessantes” que se baseiam na divulgação da modalidade em centros de recuperação e na realização de atividades de demonstração, sendo que tem sido feita ainda alguma campanha para a aquisição de material próprio, que vai de encontro à “procura de uma forma de ajudar os jogadores que começam a jogar, emprestando-lhes cadeiras para que se iniciem na modalidade.”
Joaquim Nunes completa afirmando que “a Federação também tem intervido muito ao nível da formação de treinadores porque tem inserido esta área nos cursos de nível um e dois”. Como justifica, “apesar de parecida há ainda assim alguns cuidados a ter relativamente à modalidade da cadeira e trabalho mental, etc.”
No que à modalidade diz respeito, “tem-se asssistido a um crescendo dos clubes que organizam provas, existindo já um calendário de oito torneios mais o Campeonato Nacional — que nos últimos anos tem sido muito interessante porque pela segunda vez consecutiva é dotado de um prize-money, o que é um esforço significativo da federação e um reconhecimento.” Se os clubes com capacidade e disposição para acolher esta vertente vão aumentando, “não há mais jogadores por causa da divulgação da modalidade e também pela procura — há muitas pessoas com limitações que se acomodam e ficam em casa e depois também não é fácil porque é uma modalidade que em termos de aprendizagem requer alguma capacidade de sacrificio e esforço e é preciso algum tempo até que as pessoas possam competir — sendo que já os mesmos oito jogadores há muito tempo sem virem jogadores novos, não há renovação.”
Nunes concluí confessando que “em termos de experimentação há muita gente a participar mas que depois acaba por não ficar, faltando a aderência depois da primeira experiência”, e reconhecendo que “se eventualmente tivessemos um jogador a fazer resultados a um nível internacional também seria mais apelativo”.
Clube Inclusivo
Este é o programa da Federação que tem como objectivo “criar a nível nacional uma rede de clubes com capacidade de resposta para acolher alunos portadores de limitações funcionais e que pretendam aprender a jogar ténis em cadeira de rodas”, sendo para isso necessário que os clubes possuam acessibilidades aos espaços sociais e desportivos e elementos das equipas técnicas com disponibilidade para trabalhar com os atletas em questão, assim como “disponibilidade por parte do clube em receber a custo zero ou simbólico a integração destes alunos no respeitante a mensalidades.”
Como avança a própria Federação Portuguesa de Ténis, será dado um “o apoio gratuito ao nível da formação pontual e contínua de treinadores, fornecendo ainda dentro da disponibilidade existente cadeiras de rodas na fase inicial da formação dos jogadores.”
Clubes Inclusivos: Luso Ténis Clube (Aveiro); Clube Ténis Pombal (Leiria); Clube Académico Desportos, Clube Ténis Estoril, Clube Ténis Torres Vedras, Escola Ténis Pedro Smash, Escola Ténis José Mário Silva, Navigators Sports Club, União Juventude Alverca (Lisboa); Clube do Pessoal da EDP/REN, Clube Ténis Marco, Lousada Ténis Atlântico, Vizela Ténis Atlântico (Porto); Clube Ténis Setúbal (Setúbal);
Prova Internacional em Setúbal arranca já esta semana
Como reflexo da procura de uma maior divulgação da modalidade, está previsto arrancar já no próximo dia 25 de setembro, no Clube de Ténis de Setúbal, o I Open Baía de Setúbal — prova internacional que reunirá vinte e três atletas de nove nacionalidades. Como conta Joaquim Nunes, “não é a primeira prova de ténis internacional em Portugal porque já houve, na década de 90, uma prova nos Açores mas depois de abertas as inscrições não houve grande participação e tivemos de convidar dois jogadores espanhóis para virem e ser uma prova internacional.”
De entre os inscritos, figuram o holandês Berry Korst (102º no ranking) e o espanhol Alvaro Illobre (#103) e ainda os portugueses Carlos Leitão, João Sanona, Paulo Espírito Santo, João Lobo e Pedro Silva, fazendo com que a prova tenha “um quadro bastante diversificado”.
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