Com apenas dezanove anos, Frederico Silva, natural das Caldas da Rainha, conta já com uma chamada à equipa principal da Taça Davis, um título Future em singulares (seis em pares) e três finais de torneios do Grand Slam disputadas (das quais venceu duas). Não poderia, portanto, haver melhor entrevistado pela nossa equipa antes de enfrentarmos mais uma edição do Portugal Open na sala de imprensa.
ENTREVISTA
- Ténis Portugal: Vários jogadores afirmam que o circuito ITF/future é muito exigente mentalmente e que é completamente diferente do circuito júnior. Sentiste estas dificuldades no primeiro ano de transição? Como se processou a tua passagem de um ‘escalão’ para o outro?
Frederico Silva: Sem dúvida que o circuito Future é totalmente diferente do circuito de juniores. Não é uma transição fácil visto que a maioria dos jogadores contra quem jogamos são bastante mais velhos e com mais experiencia, o que faz muita diferença para o circuito júnior – onde a variação de idades é no máximo de três anos. Mas é mesmo por saber desta dificuldade que eu tentei começar a jogar torneios Future o mais cedo possível (15/16anos) e o ano passado, no meu último ano de júnior, apenas joguei 4 torneios de juniores.
- Ténis Portugal: Saíste de 2012 fora do top1000 e chegas a abril de 2014 no top600. Quais foram as principais melhorias desenvolvidas ao longo dos últimos meses e em que aspectos te focaste mais em trabalhar?
Frederico Silva: Apesar de muitos torneios não me terem corrido tao bem quanto eu gostaria, tenho tido alguns bons resultados em torneios Future, o que tem permitido melhorar o meu ranking. Tenho melhorado bastante o meu serviço e resposta e tenho aperfeiçoado vários pormenores técnicos e tácticos que acredito que mais tarde me possam vir a dar bons resultados.
- Ténis Portugal: Ainda no teu primeiro ano ‘a tempo inteiro’ no circuito Futures conquistas o teu primeiro torneio de singulares, mais precisamente em Monfortinho. Como viveste toda essa semana e quão importante foi chegares à vitória em solo português?
Frederico Silva: O torneio de Monfortinho foi um torneio muito importante para mim. Para além de me ter proporcionado um grande “salto” no ranking, deu-me confiança para os Futures seguintes que iriam surgir. Obviamente o facto de ter sido em Portugal teve um sabor especial porque, para além de ter tido uma óptima semana, pude ter a presença do meu treinador, dos meus pais e de alguns familiares no meu primeiro título num torneio profissional.
- Ténis Portugal: O final de ano de 2013 acabou por ser novo para ti, dado que pela primeira vez te juntaste à equipa principal de Portugal na Taça Davis, primeiro em estágio e depois para disputar uma eliminatória oficial. Como reagiste ao anúncio de que integrarias a convocatória final? Foi algo inesperado ou estavas já relativamente preparado a nível mental?
Frederico Silva: A presença na eliminatória da Taça Davis foi uma experiencia espectacular para mim, fiquei muito contente com a convocatória. Naquela altura não estava à espera de ser chamado à equipa visto que eu não constava na convocatória inicial e só entrei na equipa devido à lesão do Pedro Sousa. De qualquer forma fiquei muito contente por ter sido eu o escolhido para o substituir.
- Ténis Portugal: Sentiste muita pressão ao fazeres a tua estreia na competição?
Frederico Silva: Embora tenhamos perdido esta eliminatória na Eslovénia, fiquei satisfeito com a oportunidade de me estrear. Não senti muita pressão porque a eliminatória ja estava decidida, mas no inicio do jogo senti-me bastante mais nervoso do que num jogo ‘normal’.
- Ténis Portugal: Na mesma altura em que te juntaste à equipa nacional, Portugal mudou de treinador. Podes falar-nos um pouco sobre todo o trabalho desenvolvido pelo Nuno Marques e a sua equipa técnica junto dos jogadores até ao momento?
Frederico Silva: Eu nunca tinha estado na equipa quando era Pedro Cordeiro o capitão, por isso apenas posso falar da nova equipa técnica. Tanto eu, quanto o resto dos elementos da equipa gostámos bastante do trabalho que o novo Capitão Nuno Marques e o Seleccionador Emanuel Couto têm desenvolvido com a equipa. Conseguiram proporcionar um ambiente muito bom tanto dentro, como fora do campo – o que eu considero uma mais-valia numa competição de equipa.
- Ténis Portugal: Defender as cores de Portugal passa pelos teus objectivos anuais?
Frederico Silva: Obviamente gostaria muito de poder voltar a pertencer à equipa nas próximas eliminatórias, mas se não para já, aguardarei as minhas oportunidades.
- Ténis Portugal: À Taça Davis seguiu-se a participação numa série de torneios ITF e rapidamente surgiram os bons resultados, primeiro em pares (com dois vice-campeonatos e um título de campeão), depois em singulares (com um vice-campeonato). Que balanço fazes do primeiro trimestre de 2014?
Frederico Silva: O primeiro trimestre deste ano foi bastante positivo. Para além de alguns bons resultados que tenho conseguido, sinto o meu jogo a evoluir, e essa é uma das principais prioridades nesta fase da minha carreira.
- Ténis Portugal: Jogar ao lado de um atleta tão experiente quanto o Frederico Gil em Faro, onde chegaram à final, foi importante para nas semanas seguintes registares mais bons momentos em pares?
Frederico Silva: Foi um prazer para mim visto que o Frederico é um grande jogador, com muita experiencia e qualidades. Sempre tive bons resultados em pares mas foi obviamente muito bom para mim ter a oportunidade de jogar com ele.
- Ténis Portugal: Que influência teve essa parceria (e todas as sessões de treino conjuntas durante o ano) no vosso duelo de singulares na Turquia?
Frederico Silva: Felizmente tive várias oportunidades na minha carreira de treinar com grandes jogadores e todos esses momentos me têm ajudado a evoluir, portanto, tanto os treinos com o Frederico, como o jogo que disputamos, foram mais umas oportunidades para continuar a melhorar.
- Ténis Portugal: Com apenas dezanove anos, pareces conseguir conciliar da melhor forma as vertentes de singulares e pares. Numa época em que vemos muitos dos principais jogadores de singulares negligenciar de certa forma o circuito de pares, qual é a tua opinião acerca da conciliação das duas vertentes? Continuar a jogar singulares e pares no mesmo torneio é algo que pretendes continuar a fazer?
Frederico Silva: Eu sempre fui a favor de jogar simultaneamente singulares e pares. Acredito que em grandes torneios os jogadores optem por não jogar pares para se pouparem fisicamente para os encontros de singulares, o que faz todo o sentido. Para mim, ainda em fase de formação, todos os jogos que possa jogar (quer singulares ou pares) contribuem para o meu desenvolvimento como jogador, por isso enquanto poder continuar a conciliar as duas vertentes, assim o tenciono fazer.
- Ténis Portugal: É incontornável questionarmos-te acerca dos teus triunfos em torneios do Grand Slam. Entraste para a história do desporto nacional ao tornares-te no primeiro representante português a triunfar num dos quatro maiores torneios do mundo, algo que conseguiste por duas vezes e alcançando ainda uma outra meia-final. Quão importante foi para ti conseguir estes resultados?
Frederico Silva: Os títulos de pares nos torneios do Grand Slam significaram bastante para mim porque embora não tenha sido em singulares, como eu pretendia, não deixa de ser um titulo num dos maiores torneios do mundo da minha idade e isso obviamente deu-me muita motivação para continuar o meu percurso.
- Ténis Portugal: O ténis português atravessa um dos seus melhores momentos, com o João Sousa a tornar-se no primeiro português a vencer um torneio ATP de singulares e a entrar no top40 mundial. Como vês o panorama actual do ténis em Portugal? Até onde pensas ser possível chegarmos nos próximos anos?
Frederico Silva: Sem dúvida que o ténis português está a atravessar uma óptima fase. O João Sousa tem sido a principal referencia com os excelentes resultados que tem feito ultimamente, mas há outros jogadores, tanto no escalão júnior como no escalão sénior a crescer bastante e a proporcionarem bons momentos para o ténis em Portugal. Acho que esta melhoria tem sido possível graças ao esforço dos jogadores, treinadores e familiares, mas também devido ao apoio que a federação de ténis tem tentado dar aos seus atletas.
- Ténis Portugal: No início desta entrevista revelaste-nos os aspectos em que trabalhaste mais ao longo dos últimos meses. E agora, para os próximos tempos, quais são os principais ‘pontos’ a melhorar dentro e fora do campo?
Frederico Silva: Como disse anteriormente, estou numa fase de formação onde tenho de melhorar todos os aspectos do meu jogo, quer técnicos, físicos ou mentais. Desta forma, a melhor maneira de evoluir neste momento é competir muito para poder não só pôr em pratica os aspectos que tenho desenvolvido mas também para ganhar experiencia competitiva.
- Ténis Portugal: Podes revelar-nos quais os teus objectivos principais relativamente a ranking e conquistas (a nível de torneios) para o resto da temporada de 2014?
Frederico Silva: Ate ao final deste ano, vou continuar a jogar torneios Futures e, se possível, alguns Challengers (como estes que joguei no Brasil). A nível de ranking, conseguir terminar o ano no top350 ATP já seria uma boa meta para mim.
Q&A:
Ser número um mundial ou vencer um torneio do Grand Slam?
Vencer um titulo do Grand Slam.
Courts de terra batida, piso rápido ou relva?
Gosto dos três pisos, não consigo escolher um.
Vencer a Taça Davis ou conquistar uma medalha olímpica?
Vencer qualquer uma das competições é um sonho para mim.
Cidade preferida?
Nova Iorque.
Torneio do Grand Slam preferido?
Wimbledon.