“I don’t think I’ll win a Grand Slam. I’m too far away.” No seu inglês com sotaque, Stanislas Wawrinka antevia assim a sua participação em mais um Australian Open. Quinze dias depois, o suíço espera acordar e verificar que não se trata apenas de um sonho. Não é um sonho. Foi o melhor em campo ao longo das sete jornadas duplas, foi o único a vencer sete encontros e tornou-se também no primeiro da história a derrotar Novak Djokovic e Rafael Nadal no mesmo Major, conquistando assim o seu primeiro título.
“Estou tão longe [de ganhar um torneio do Grand Slam]. A minha única meia-final foi jogada no último US Open, depois de dez anos de carreira.” As declarações do suíço reflectiam a sua humildade e também falta de esperança na vitória num torneio onde estavam presentes todos os melhores do mundo. A verdade é que, apesar dos bons resultados nos últimos doze meses, o seu registo era 100% negativo frente a Nadal e a Djokovic, sendo que contava apenas com uma vitória sobre Federer.
Mas o ténis é imprevisível e a centésima segunda edição do Happy Slam não fugiu à afirmação. Novak Djokovic era claramente o jogador com um quadro mais fácil até à final, o que, aliado ao facto de ter ganho as últimas três edições, o fazia ser o grande candidato ao título. No entanto, o reencontro com o suíço acabou por não lhe ser favorável (saiu derrotado de um Major nos quartos-de-final pela primeira vez desde Roland Garros 2010) e aí começou a brilhante prestação de Wawrinka.
“Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.” A frase de Samuel Beckett foi tatuada por Wawrinka logo após a sua derrota em Melbourne Park para 2013 e não passou despercebida durante um único minuto do novo encontro frente ao suíço, onde, desta feita e ao cabo de catoze tentativas, conseguiu voltar a somar uma vitória perante o ex-número um mundial. Wawrinka tentou mais uma vez frente a Djokovic e conseguiu, pelo que não fazer o mesmo com Nadal? Assim foi e fez história.
Possuidor da melhor e mais consistente esquerda a uma mão do planeta, Stan the Man, ou ainda Ironman, conseguiu contrariar o jogo de todos aqueles que ousaram colocar-se no seu caminho e tornar-se no terceiro suíço da história a vencer um torneio do Grand Slam, juntando-se assim a Roger Federer e Martina Hingis no restrito lote. Porque um bem nunca vem só, afinal de contas em 2014 não há mal que chegue perto de Wawrinka, é agora o número três mundial e melhor jogador do seu país no ranking pela primeira vez na sua carreira e lidera a corrida ao ATP World Tour Masters fruto dos dois títulos já conquistados em 2014.