Nascido em Guimarães, João Sousa é o melhor tenista português da actualidade, ocupando o 96º posto no ranking mundial ATP e tendo como melhor registo pessoal a chegada ao 86º lugar, em março da presente temporada. Antes de iniciar a disputa de dois torneios nos Estados Unidos da América, o atleta de vinte e quatro anos deu uma entrevista ao Ténis Portugal, onde comenta as suas vitórias em torneios do Grand Slam, no Guimarães Open, a participação no US Open e muito mais!
ENTREVISTA
Ténis Portugal: Actualmente com vinte e quatro anos, é um jogador do top100 mundial e já venceu encontros em quadros principais de dois torneios do Grand Slam. Como avalia a sua temporada de 2013 até ao momento?
João Sousa: Tem vindo a ser uma época positiva, de transição de torneios Challenger a torneios ATP. Nem sempre é fácil dar esse salto e manter-se nesse nível pelo que tenho vindo a trabalhar forte para conseguir cumprir esse objectivo!
Ténis Portugal: 2013 tem sido um ano de bater recordes e conseguiu inclusive ser número um português pela primeira vez na sua carreira. Sente um ‘peso extra’ agora que não tem qualquer compatriota à sua frente na tabela ATP? Fale-nos um pouco de como é ser o melhor representante do país na actualidade.
João Sousa: É óbvio que ser o melhor português da actualidade é motivo de orgulho e satisfação. Penso que passa por um dos objectivos de qualquer jogador profissional e estou muito feliz por ter atingido tal feito! O ténis é um desporto individual e não compito com os meus colegas portugueses para ser o número 1 nacional, a não ser para ser melhor jogador e subir cada vez mais na tabela classificatória da ATP.
Ténis Portugal: A sua temporada foi ‘aberta’ da melhor forma com a ultrapassagem da fase de qualificação em Sydney e, depois, com uma vitória no quadro principal do Australian Open, onde só perdeu para Andy Murray. Até que ponto considera ter sido importante para a sua carreira ultrapassar uma ronda de um quadro principal de um torneio do Grand Slam e defrontar um jogador como o britânico, então campeão em título do US Open e dos Jogos Olímpicos?
João Sousa: Ter ultrapassado uma ronda num Grand Slam foi mais um objectivo da época bem conseguido. O Andy é um excelente jogador, um dos melhores do mundo, e tem vindo a demonstra-lo há vários anos, pelo que foi uma excelente experiência poder defrontá-lo e aprendi muito com esse encontro! Senti o que é realmente preciso para se ser um dos melhores jogadores do mundo e tirei conclusões muito boas do jogo.
Ténis Portugal: Meses mais tarde, somou mais uma vitória em torneios Major ao apurar-se para a segunda ronda do quadro principal de Roland Garros. Derrotou o sempre perigoso Go Soeda e ainda ‘arrancou’ um set a Feliciano Lopez. Quão importante foi/é a sua experiência em Espanha quando joga em terra batida e, sobretudo, frente a jogadores espanhóis?
João Sousa: Mais una vez tive uma excelente prestação num torneio do Grand Slam, desta vez frente ao Go Soeda. Sabia que ele era um jogador muito perigoso mas era consciente de que neste tipo de superfície o meu jogo se adaptava melhor e tirei proveito disso. Estou mais habituado a jogar em terra batida e como bem dizem a minha experiência de Espanha fez com que conseguisse aplicar o que me ensinaram durante anos e levar a melhor frente ao japonês. Contra o Feliciano, as coisas já foram um pouco diferentes, porque conhecemo-nos muito bem, treinamos muitas vezes juntos e ele conseguiu anular bem as minhas armas e acabou por vencer.
Ténis Portugal: A sua ausência do Portugal Open foi vista pelos portugueses como uma grande surpresa e originou muito desagrado nos seguidores da modalidade em Portugal, que têm cada vez mais vindo a seguir ténis e os atletas nacionais. De que forma avalia este crescimento do ténis no nosso país e que importância tem sentir todo este interesse por parte dos seus compatriotas?
João Sousa: É óptimo ver que as pessoas começam a gostar mais de ténis e assistir e a seguir os jogadores portugueses! Penso que neste momento temos a melhor geração até ao momento do ténis nacional, com vários jogadores no top300, e acho que é motivo de orgulho para o país. O Portugal Open é um evento que ajuda a modalidade a ser conhecida não só a nível nacional mas também internacional e isso é sempre bom para todos.
Ténis Portugal: Alternando entre torneios do circuito ATP e do circuito Challenger ATP, tem conseguido manter-se perto (e dentro) do lote dos 100 primeiros ao longo do ano. De que forma pretende gerir o seu calendário até ao final da época e quais são os objectivos para os próximos meses?
João Sousa: Como referi anteriormente, o objectivo principal de este ano passa por tentar manter-me no top jogando torneios de categoria superior. Vou apostar mais nos torneios ATP e vou dar o meu melhor para manter-me no topo.
Ténis Portugal: Obviamente, a conquista do Challenger de Guimarães, perante os seus compatriotas e ‘em casa’, assume-se como um dos feitos mais memoráveis da sua carreira até ao momento. Como define toda esta experiência e que importância considera ter não só para si mas também para o evento, estreante no calendário ATP? Acredita que será possível Portugal manter um ATP 250 em Lisboa e um Challenger em Guimarães?
João Sousa: O Guimarães Open 2013 ficará gravado na minha memória para sempre. Foi um torneio com muitas emoções e poder responder a todas as pessoas que me vieram apoiar durante essa semana com uma vitória foi excelente! Não podia ter acabado de uma maneira melhor! Penso que a organização ficou muito satisfeita com a forma como decorreu o torneio e quanto à continuidade do mesmo não me cabe a mim decidir mas, se assim for, seria muito bom para todos e para o nosso ténis.
Ténis Portugal: Qual foi o seu primeiro pensamento após derrotar Marius Copil para vencer o torneio [de Guimarães – parciais de 6-3 6-0]?
João Sousa: Pensei em várias coisas ao mesmo tempo, mas não tinha sido uma semana fácil para mim e acho que as primeiras sensações que tive foram de alívio e alegria.
Ténis Portugal: Qual considera ter sido o ponto alto da sua temporada até ao momento? E da carreira?
João Sousa: Não consigo identificar o ponto mais alto, porque quando se ganha um é sempre muito bom, mas penso que o Guimarães Open foi muito especial para mim.
Ténis Portugal: Com apenas vinte e quatro anos, tem ainda muitas épocas de ténis ao mais alto nível pela frente e, certamente, bastantes aspirações. Até onde deseja chegar e como se gostaria de ver daqui a quatro anos enquanto jogador?
João Sousa: Os meus objectivos de cada época passam sempre por ser melhor jogador e mais experiente! O ténis é um desporto em que a experiência conta muito e penso que se continuar a trabalhar posso melhorar ainda mais e, por consequência, subir no ranking! Daqui a quatro anos espero estar em boa forma, sem lesões e a jogar o que mais gosto…ténis!
Ténis Portugal: O circuito Challenger é muitas vezes visto por inúmeros jogadores (dos quais se destacam, para nós, portugueses, os atletas lusitanos) como uma oportunidade de angariar pontos para subir lugares no ranking e poder jogar torneios de nível superior. Posto isto, como foi visto o cancelamento do Challenger de Lisboa e quais são as expectativas do João e dos tenistas profissionais portugueses em relação à organização de torneios em Portugal?
João Sousa: A realização de eventos em solo nacional é bastante positiva para todos. Primeiro, porque servem para divulgar a modalidade, e depois porque nós, atletas portugueses, não temos de viajar para o estrangeiro para disputar torneios de qualidade e que sejam pontuáveis para o ranking ATP.
Não nos podemos esquecer de que o país está a atravessar uma crise e de que hoje em dia não é nada fácil angariar fundos para a realização dum evento destes! Por isso, temos de dar valor às pessoas que o conseguem fazer – porque além de nos ajudarem a nós, portugueses, ajudam muitíssimo o ténis nacional.
Ténis Portugal: Depois de ter vencido o Challenger de Guimarães, disputou apenas a fase de qualificação do ATP Masters 1000 de Cincinnati. De que forma tem preparado a sua participação no US Open? Quais têm sido os ‘pontos-chave’ que tem vindo a trabalhar ao longo das suas sessões de treino da última semana e como tem mantido o ritmo competitivo?
João Sousa: Precisava de descansar já que vinha de uma série longa de torneios sem parar! A transição de terra batida para piso rápido nem sempre é fácil mas felizmente sou um jogador que se adapta bem às condições e soube gerir bem a adaptação a Guimarães! A preparação passa por jogar um pouco mais baixo de pernas e preparar de forma mais curta os movimentos, já que a bola vem mais rápida: também é importante apoiar-me num bom serviço. O ritmo competitivo aparece com os encontros disputados e esta semana vou disputar o ATP [250] Winston-Salem, que também é bom para ganhar ritmo de jogo.
Ténis Portugal: A menos de duas semanas do começo do torneio, quais são as suas expectativas para o US Open, último torneio do Grand Slam da temporada?
João Sousa: As expectativas de qualquer jogador são sempre altas quando falamos de uma actuação num Grand Slam. Queremos sempre conseguir uma boa prestação num torneio deste calibre e preparamo-nos da melhor maneira possível. Acredito que a minha preparação tem vindo a ser excelente e espero pode fazer um brilharete no último torneio do Grand Slam da temporada!
Ténis Portugal: Maria João Koehler e Michelle Larcher de Brito serão as outras representantes portuguesas em NY e, semana após semana, é possível observar que existe cada vez mais intimidade entre os atletas portugueses, nomeadamente entre o João e a Maria João. Até que ponto é importante sentir o apoio de outros jogadores? Costumam trocar impressões antes e após encontros, falar sobre o desporto, ou procuram relaxar e abstrair-se de tudo por alguns momentos quando estão no estrangeiro?
João Sousa: Dou-me bem com todos os jogadores portugueses do circuito e a Maria João é uma miúda de quem gosto muito! Fico feliz por ela estar presente num torneio tão importante, desejo-lhe o melhor evento possível e vou apoiá-la sempre que poder nos encontros do qualifying! Fora do court gostamos mais de relaxar e conversar sobre outras coisas… Vamos jantar todos juntos e o ambiente é óptimo quando nos reunimos!
Ténis Portugal: Depois do US Open, a Taça Davis, e Pedro Cordeiro chamou-o uma vez mais à equipa. Como avalia as hipóteses de Portugal neste embate frente à Moldávia?
João Sousa: A Moldávia é uma equipa que tem vindo a surpreender positivamente e não é por acaso que está nesta fase da competição em luta connosco para subir ao Grupo I. Estamos cientes de que não vai ser uma tarefa fácil, uma vez que jogamos fora e que eles têm jogadores bastante perigosos. Temos consciência de que, apesar disso, somos favoritos e vamo-nos preparar da melhor forma para estar a 100% e dar tudo por tudo para que no próximo ano Portugal esteja no Grupo 1.
Ténis Portugal: Além do João, estarão ainda presentes Gastão Elias, Pedro Sousa e Rui Machado, que completam o ‘top4’ de Portugal no ranking ATP. Considera ser um Portugal à máxima força este que se vai deslocar à Moldávia? Quais são, na sua opinião, os aspectos mais fortes da nossa equipa e de que forma pretende a selecção nacional travar a equipa da casa? Já tiveram oportunidade de falar disso com o selecionador?
João Sousa: O Pedro [Cordeiro] tenta sempre ter a melhor equipa ao seu dispor quando se trata de jogar uma eliminatória e penso que a decisão de nos convocar aos quatro foi, a meu ver, acertada, já que somos os melhores da actualidade! Falta saber agora se todos nós estaremos em perfeitas condições para poder disputar a eliminatória. Se assim não for, temos outros jovens talentosos que seguramente estarão ao serviço do Pedro para integrar a equipa nacional.
A concentração tem sempre lugar uma semana antes da eliminatória começar e é nessa altura que analisamos os nossos adversários e trabalhamos em conjunto para poder estar a 100%.
Ténis Portugal: Por fim, pedimos-lhe que deixe um comentário a todos os jovens portugueses que ambicionam tornar-se tenistas profissionais e a todos os leitores do Ténis Portugal.
João Sousa: A todos os jovens atletas e aos leitores do site Ténis Portugal, gostaria de dizer-lhes para praticarem a modalidade acima de tudo com diversão! Aos amadores, é uma óptima disciplina para fazer exercício e para perderem alguns ‘quilitos’, e aos jovens atletas que ambicionam tornar-se tenistas profissionais queria dizer para, acima de tudo, gostarem do que estão a fazer, não deixarem que ninguém crie o vosso caminho e para tentarem aprender com cada situação que vos aparece, acreditando sempre em vocês. Acima de tudo, divirtam-se!