Stakhovsky surpreende Federer em Londres

“Vocês [media] falaram demasiado de um possível embate entre mim e o Nadal dos quartos-de-final. Foi uma falta de respeito para com os restantes jogadores.” A frase proferida por Roger Federer após a derrota por 7-6(5) 6-7(5) 5-7 6-7(5) na segunda ronda de Wimbledon, para o ucraniano Sergiy Stakhovsky, começa agora a percorrer o mundo.
Depois de trinta e seis torneios do Grand Slam seguidos a atingir pelo menos os quartos-de-final, um record absoluto, o jogador suíço sofreu a sua derrota mais precoce num evento da categoria desde o afastamento na ronda inaugural de Roland Garros, em 2003, época que marca precisamente a última vez que Federer havia ocupado um lugar fora do top4 mundial. Dia 8 de julho, e porque falha por completo a defesa do título, o mais consagrado tenista da actualidade voltará a estar fora dos quatro primeiros postos da hierarquia mundial.
Com a derrota para Stakhovsky, muitos records chegaram ao fim, muitas dúvidas se instauraram e muito se comentou, até porque, além do suíço, também Victoria Azarenka, Maria Sharapova, Ana Ivanovic, Caroline Wozniacki, Jelena Jankovic, Lleyton Hewitt (todos eles ex-número um mundiais) e Jo-Wilfried Tsonga abandonaram a competição nesta quarta-feira, dois dias depois de Rafael Nadal ter ficado também ele pelo caminho. Por estes motivos, e pela qual Portugal pode estar orgulhoso (afinal, Michelle Larcher de Brito foi autora de uma das surpresas, ao vencer em sets directos Maria Sharapova), a jornada de 26 de junho de 2013 foi já apelidada de ‘Black Wednesday’.
No entanto, voltemos a Roger Federer, que sofreu a derrota mais inesperada do torneio. Como já referido, muitos outros nomes da elite mundial foram afastados nas duas rondas inaugurais, mas na relva é Federer quem domina. Com sete títulos conquistados no All England Club (divide o record com Pete Sampras), foi precisamente nesta superfície que o suíço regressou ao primeiro posto do ranking mundial em 2012, que lhe valeria então o record de semanas nessa posição, 302.
Com a derrota de um dos seus maiores rivais na primeira ronda, o atleta helvético ficava, teoricamente, com um quadro mais aberto. No entanto, e tal como Lukas Rosol e Steve Darcis, entre muitos outros que ao longo das suas carreiras conseguiram uma ou outra surpresa, Sergiy Stakhovsky impôs-se e, em pleno Centre Court, chocou o mundo do ténis. Pelo ténis apresentado, pela vitória e pela consequente eliminação de um dos melhores jogadores de sempre.
Mais uma vez, “vocês [media] falaram demasiado de um possível embate entre mim e o Nadal dos quartos-de-final. Foi uma falta de respeito para com os restantes jogadores.” Talvez com o orgulho posto em causa antes de entrar em court, Stakhovsky (que conta no seu palmarés com um título profissional conquistado sobre a relva) mostrou mais uma vez que é possível escrever história de uma outra maneira, que é possível jogar de igual para igual com os melhores e que, num dos mais históricos estádios do planeta, é possível sair-se vitorioso, independentemente do adversário e do seu palmarés.
Foram, no total, trinta e seis os quartos-de-final seguidos que Roger Federer disputou em torneios do Grand Slam, uma sequência que chega agora ao fim naquele que era, muito provavelmente, o torneio em que menos probabilidades existiam de isso acontecer. Stakhovsky jogou com as probabilidades, apropriou-se de tudo o que podia a seu favor e alinhou uma exibição exemplar para se apurar para a terceira eliminatória.

ARTIGO ESCRITO POR GASPAR LANÇA PARA REGISTO PESSOAL A 26.06.2013 E PUBLICADO PELA PRIMEIRA VEZ NO TÉNIS PORTUGAL A 11.08.2013 (TENDO A DATA SIDO POSTERIORMENTE ALTERADA PARA A DA SUA ESCRITA).

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