Terra batida azul: o começo do fim?

Meses antes do começo do Mutua Madrid Open 2012 já era visível (e audível) toda a polémica em torno do novo piso: terra batida azul. A verdade é que, durante o torneio, os protestos continuaram e a prova é ainda mais criticada que no seu início. Mas será que todos os jogadores são contra a alteração? Quais são os pró e contras da terra batida azul e o que é que falhou em todo o processo?
Ion Tiriac, multimilionário romeno que assume o papel de dono do mais importante torneio de ténis realizado em Espanha, quis inovar e, contra todas as expectativas, conseguiu: a ATP e a WTA aprovaram e, assim, ficou dito e escrito que a edição de 2012 do torneio madrileno seria realizada em terra batida azul, o terceiro tipo de terra utilizado em torneios oficiais (depois da terra batida clássica, cor argila, e a norte-americana, verde) – curiosamente, o torneio já sofria algumas críticas dos jogadores por ser disputado em altitude, duas semanas antes de Roland Garros; ainda antes de viajarem para Madrid, alguns dos jogadores mais populares do circuito fizeram-se ouvir e demonstraram várias vezes serem contra a decisão, estando ainda revoltados por não terem sido consultados pelas associações profissionais (quer a ATP quer a WTA têm conselhos de jogadores).
Muitas foram as conferências de imprensa antes do torneio espanhol (nomeadamente em Portugal onde, por exemplo, Juan Martin Del Potro – agora bicampeão do Estoril Open – foi várias vezes confrontado com a situação, afirmando que ainda não tinha tido a possibilidade de experimentar os courts e que, portanto, não podia dizer mais nada) e o assunto parecia vir para ficar. A situação agravou-se ainda mais quando os jogadores começaram a chegar a Madrid e a treinar nos courts da Caja Magica, agora azuis, mas jogadoras como Serena Williams, Ana Ivanovic e Julia Goerges pareciam formar um lado menos-contra a mudança, com afirmações como “é divertido jogar em terra batida azul” ou “gosto da cor”.
Os finalistas da última edição do torneio (Novak Djokovic, vencedor, e Rafael Nadal) só se estrearam na segunda ronda e, infelizmente para a organização, não conseguiram repetir as campanhas do ano transacto, tecendo largas críticas à mudança. Ainda antes da derrota, Djokovic já havia dito que “o campo parecia um ringue de patinagem” e que “precisava de chuteiras de futebol ou de chamar o Chuck Norris para jogar”, enquanto Rafael Nadal procurava convencer a ATP a deixá-lo “jogar com ténis de relva”, cuja sola impede que se escorregue tanto. A ATP nada fez e Chuck Norris, claro está, não apareceu. As derrotas chegaram e os então dois primeiros no ranking mundial deixaram claro que, se em 2013 a terra ainda for azul, não voltam a jogar o torneio.
Ainda durante a prova, numa altura em que Manolo Santana (director do torneio) se lamentava pelo estado dos courts e por não terem [organização do torneio] conseguido chegar aos bons campos que desejavam, Tiriac aproveitou para se desculpar, apontando que o court tem de ser construído todos os anos (porque a Caja Magica é um pavilhão multifunções) e que, ao pressionarem os courts para os comprimirem, acabaram por torná-los mais duros, rápidos e escorregadios. A equipa que há doze anos se ocupa da manutenção dos courts de Roland Garros, considerados por muitos como os melhores do mundo, foi contratada antes do torneio e, mesmo assim, não foi o suficiente para eliminar os problemas.
Apesar das críticas, Ion Tiriac não cedeu e foi mais longe: “Gostava que, para o ano, tivéssemos bolas fluorescentes, verdes ou cor de laranja.”
Finalizado o torneio, e com os campeões encontrados (Serena Williams na vertente feminina e Roger Federer no lado masculino), a polémica pareceu diminuir ligeiramente – talvez pelo começo de Roma, que antecede Roland Garros e é disputado na terra batida tradicional. Serena Williams e Roger Federer, dois dos jogadores mais consagrados da actualidade e da história da modalidade, foram curiosamente duas figuras que não se manifestaram contra a mudança. O suíço fez questão de notar que “não era altura para criticar, mas sim para se adaptarem às condições, porque é isso que um jogador precisa de fazer constantemente, em todos os torneios, todos os dias.” 
A análise das entidades profissionais será emitida entre Wimbledon e o US Open, pelo que só aí se ficará a saber se, em 2013, o torneio voltará a ser disputado em terra batida azul (e com bolas florescentes, talvez), mas os campeões não pareceram muito afectados, pelo que fica em aberto se a mudança é assim tão má que não possa sequer ser adaptada/sofrer alterações e se 2012 ficará para a história como “o ano que acolheu um único torneio de terra batida azul” ou se a superfície poderá vir a ser adoptada por outras competições.
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