João Sousa faz história como nunca em Wimbledon e marca encontro com Rafael Nadal na Manic Monday

Por mares nunca dantes navegados.

A partir deste sábado assim está João Sousa, que derrotou Daniel Evans por 4-6, 6-4, 7-5, 4-6 e 6-4 em 4h05 para se tornar no primeiro jogador português a chegar à quarta ronda do torneio mais antigo, histórico, prestigiado e famoso do mundo do ténis.

Falamos de Wimbledon, pois claro.

Com um desejo de conquista insaciável, o melhor tenista português de todos os tempos deu sequência à excelente vitória sobre o ex-finalista Marin Cilic graças a uma recuperação operada com muito espírito de sacrifício. E frente a um jogador que, cortem-se já pela raíz eventuais enganos, tem muito ténis e depois de um passado negro (foi suspenso por 12 meses depois de acusar positivo a cocaína num controlo anti-doping) está de novo a espremer ao máximo todo o potencial, tendo inclusive conquistado dois títulos Challenger sobre a relva na preparação para este torneio.

Em ação no segundo maior estádio do All England Club — o No. 1 Court, que este ano inaugurou a segunda cobertura amovível do complexo —, o vimaranense de 30 anos não conseguiu apresentar a agressividade e a eficácia que o ajudaram a vencer o encontro anterior.

E por isso Evans, que tal como o português só tinha alcançado a terceira ronda em 2016, castigou-o logo no início, com uma quebra de serviço que Marin Cilic não conseguiu produzir em nenhum dos três sets disputados na quinta-feira. O britânico duplicou a fé, conseguiu explorar as variações de direção e de ritmo com a sua tão eficaz esquerda em slice (a pancada batida raramente apareceu, mas quando a executou raramente ficou mal na fotografia) e conseguiu ser feliz no primeiro parcial.

No segundo set, mais do mesmo. Um João Sousa irregular e menos capaz em termos ofensivos viu-se rapidamente em desvantagem por um break e o cenário ficou cada vez mais negro. Mas o tenista português é um lutador e ao oitavo jogo tudo mudou: um break de serviço foi suficiente para o rumo do encontro se alterar, com o número um português a ganhar a confiança necessária para começar a criar dificuldades ao jogador da casa e, com a devida insistência, igualar o marcador.

Nos parciais seguintes, inícios semelhantes: Evans foi sempre o primeiro a quebrar e se no terceiro o português conseguiu dar novamente a volta para passar pela primeira vez para a liderança do encontro, no quarto o britânico agarrou-se com unhas e dentes à luta e voltou a ser mais forte.

Depois… Uma pausa. 15 minutos foram necessários para que se fechasse a recém-inaugurada cobertura do No. 1 Court, que permitiu que se combatesse a ausência de luz natural e se prolongasse a batalha. Entre dois lutadores, entre a direita de Sousa e a esquerda em slice de Evans, entre um Conquistador solitário e um britânico apoiado pela grande maioria dos 12.300 espetadores que por essa altura já esgotavam o recinto.

E no país de William Shakespeare fez-se poesia. Encaixados no jogo do adversário, João Sousa e Daniel Evans lutaram com todas as forças, com todas as armas, com todas as unhas e dentes no fundo do court e à rede por uma vitória que seria histórica para os dois e que, após 4h05, acabou pintada de verde, amarelo e vermelho — foi mais uma batalha conquistada.

Por mares nunca dantes navegados, como ele tanto nos habitua

Num piscar de olhos — ou no espaço de uma semana —, o torneio do Grand Slam onde João Sousa tinha pior registo de vitórias (apenas duas em cinco participações) torna-se no segundo em que o vimaranense consegue alcançar os oitavos de final.

Depois de o fazer em setembro passado, em Nova Iorque, João Sousa inscreve o nome entre os 16 melhores do torneio de Wimbledon e ganha direito a ir a jogo na famosa Manic Monday — descrita por muitos como o melhor dia do ano para ver ténis, uma vez que devido ao Middle Sunday (uma espécie de dia sagrado, em que salvo condições anormais, como a chuva, não se joga qualquer encontro), todos os duelos dos oitavos de final masculinos e femininos são programados para a mesma jornada.

O adversário? Rafael Nadal, o campeão de 2008 e 2010 e finalista noutras três ocasiões, que tem superado um quadro dificílimo (na segunda ronda derrotou Nick Kyrgios, na terceira Jo-Wilfried Tsonga) e já esteve no seu caminho por duas vezes — mas nunca na relva e nunca em torneios do Grand Slam.

Em 2014, no Rio de Janeiro, o espanhol venceu por 6-1 e 6-0. Dois anos mais tarde, no Masters 1000 de Madrid, teve mais trabalho e viu-se mesmo forçado a três sets (6-0, 4-6 e 6-3) para se manter em prova.

Talvez segunda-feira seja o dia.

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