Versão aperfeiçoada de Coric congela um Chardy desligado no arranque da final da Taça Davis

Borna Coric
Foi com a 40.ª vitória do ano que Borna Coric colocou a Croácia em vantagem na grande final.

Borna Coric foi o protagonista do primeiro capítulo da última história da Taça Davis como a conhecemos. Responsável por uma das maiores evoluções da temporada, o jovem croata congelou um quase esgotado Stade Pierre-Mauroy e deu o primeiro golpe no já ferido grupo de mosqueteiros liderado por Yannick Noah.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Lille

Desfalcado dos seus três melhores jogadores (Richard Gasquet, Gael Monfils e Giles Simon), o capitão Yannick Noah surpreendeu ao deixar de fora das escolhas para o primeiro dia Lucas Pouille — o melhor rankeado entre os escolhidos e autor do ponto decisivo na final de 2017, em que os gauleses ergueram a famosa “saladeira” pela oitava vez na história. Em detrimento dele foi Jeremy Chardy quem primeiro pisou o court de terra batida instalado por cima do relvado que serve de palco à equipa de futebol da cidade.

E a eliminatória começou a ser jogada logo aí, no sorteio. Chardy — um jogador que pode ser conhecido dos portugueses por em tempos ter derrotado Fred Gil em três torneios do Grand Slam consecutivos — não é Pouille e mesmo ocupando um lugar entre os 40 melhores jogadores do mundo não teve ténis para fazer frente àquela que foi uma das revelações da temporada (o que lhe valeu um lugar na O2 Arena de Londres como suplente no “Masters”).

Borna Coric mostrou desde cedo ao que ia e como. Com uma serenidade que até há dois meses não mais era do que uma miragem e uma inteligência dentro do court que (agora sim) já faz inveja à maioria dos rivais, o jovem de 22 anos nada se deixou abalar pelo facto de em jogo estar o último troféu da Taça Davis como a conhecemos.

Muito pelo contrário: com fome de títulos (a Croácia disputou a final de 2016 mas não contou com o seu contributo), Borna Coric abordou o primeiro encontro da jornada de sexta-feira como se do último se tratasse. Cometeu pouquíssimos erros, ganhou a forma de uma parede do fundo de campo — uma imagem de marca que já o ajudou a bater jogadores como Andy Murray (Dubai e Madrid), Rafael Nadal (Basileia e Cincinnati) e Roger Federer (por duas vezes este ano, em Halle e Xangai) — e não se mostrou tímido quando na raquete teve a possibilidade de “disparar” winners — uma característica que tem vindo a evoluir cada vez mais no seu jogo.

Do outro lado do court viu-se um Jeremy Chardy à imagem da segunda metade da época, na qual não conseguiu produzir o mesmo ténis ofensivo e eficaz do primeiro “semestre” (que o levou, inclusive, à final de s-Hertogenbosch e às meias-finais no Queen’s Club). O jogo inaugural de 12 minutos no qual cedeu o serviço não serviu do abre olhos de que precisava e a reação só se fez chegar no segundo parcial, quando ainda espreitou um break que igualaria o marcador, mas o francês rapidamente se traiu a si próprio (outra vez) com um jogo de serviço que não deixará boas memórias.

“Miseráble, miseráble”, ouvi dos adeptos franceses que se sentaram nas filas mais próximas dos lugares reservados à imprensa e que, atentos, sofriam cada vez mais com o resultado.

Numa estrutura impressionante (o Stade Pierre-Mauroy transforma-se num recinto com capacidade para receber quase 28.000 espetadores, tendo inclusive batido o recorde em encontros oficiais de ténis há quatro anos, quando 27.448 pessoas viram a suíça de Roger Federer & companhia erguer aqui mesmo o troféu) não faltou a instalação de aquecimentos, mas nem eles impediram a congelação do primeiro mosqueteiro a entrar em campo e do próprio público francês, que na falta de jogadas e momentos apelativos até se deixou ultrapassar pelos entusiasmados visitantes croatas (para onde Borna Coric rapidamente aprendeu a olhar… E festejar).

A fórmula é simples de compreender e o resultado demasiado previsível: ao fim de apenas 2h20, o árbitro James Keothavong “cantou” o resultado de 6-2, 7-5 e 6-4 a favor de Borna Coric, um começo insonso para aquela que é a última final da Taça Davis no atual formato — a partir de 2019, as melhores equipas reunem-se numa só semana, em Madrid, para lutar pelo novo título da prova, que perderá a sua identidade e características e momentos tão únicos quanto a entrada da equipa da casa em court, o hino e todas as outras situações que um público neutro não viverá com a mesma intensidade.

Se a decisão de apostar em Jeremy Chardy em detrimento de Lucas Pouille lhe poderá ter deixado um nó na garganta, Yannick Noah não tem tempo a perder. A França precisa de reagir para evitar ficar entre a espada e a parede e lutar pela defesa do título e isso significa que Jo-Wilfried Tsonga terá de fazer mais frente àquele que é o melhor jogador entre todos os convocados: Marin Cilic.

É um duelo de titãs na superfície que está longe de ser a que mais adoram e ao qual chegam em momentos diferentes: depois de uma longa ausência devido a uma lesão no joelho, que o fez falhar sete meses de competição e descer até à 259.ª posição do ranking ATP, o francês — que tem mais encontros de singulares disputados na competição (29) que todos os seus compatriotas juntos — prepara-se para disputar o seu primeiro encontro em terra batida desde as meias-finais da Taça Davis de 2017, neste mesmo estádio. Já o croata, ocupa o 7.º posto da tabela, já soma 42 vitórias em 2018 e nos últimos 16 meses disputou duas finais do Grand Slam, em Wimbledon 2017 e no Australian Open desta época.

Total
0
Shares
Total
0
Share