Cilic agarra-se à lógica, derrota Tsonga e coloca a Croácia às portas do título

Marin Cilic
Fotografia: Corinne Dubreuil

O 13.º jogador com mais vitórias em 2018 derrotou um dos mais ausentes, ou como Marin Cilic somou um esperado triunfo perante um Jo-Wilfried Tsonga em recuperação para deixar a Croácia a apenas uma vitória do segundo título na Taça Davis.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Lille

Era uma tarefa ingrata aquela que os 19.444 espetadores franceses presentes no Stade Pierre-Mauroy pediam a Jo-Wilfried Tsonga à entrada para o segundo (e último) encontro desta sexta-feira: só a vitória deixaria a equipa da casa numa posição de conforto, mas o gaulês esteve sete meses sem competir e do outro lado do court apresentava-se um dos maiores desafios da atualidade, Marin Cilic (sétimo melhor classificado no ranking ATP).

Num cenário completamente diferente daquele que viveu há um ano, quando representou pela última vez a França numa final em que o seu país era o favorito à vitória, o número 259 do mundo precisava de um milagre — ou de um duplo milagre: de se exceder física e tecnicamente e de encontrar um gigante croata desgastado depois de um ano que o viu disputar a terceira final em torneios do Grand Slam (foi finalista no Australian Open, perdendo para o mesmo Roger Federer que já o tinha derrotado na edição anterior de Wimbledon) e somar 42 triunfos no percurso rumo a Lille.

Não aconteceu, a lógica permaneceu e a realidade depressa atingiu o conjunto francês, com Marin Cilic a derrotar Jo-Wilfried Tsonga por 6-3, 7-5 e 6-4 quando os relógios do court apontavam 2h23 de encontro.

Não que Tsonga tenha jogado mau ténis — não jogou, sobretudo para quem entre fevereiro e setembro não disputou um único encontro e na véspera da final voltou a sentir problemas (desta feita no ombro e não no joelho que o levou mesmo à sala de operações). Mas tal como Borna Coric no primeiro encontro também Marin Cilic esteve intransponível e mesmo encontrando mais resistência do que o seu compatriota não se permitiu dar passos em falso.

Nas poucas ocasiões em que o jogador da casa conseguiu criar janelas de oportunidade o melhor ténis de Cilic apareceu. Quer no oitavo jogo do segundo set quer no quarto do terceiro, os dois break points alcançados não se revelaram suficientes para Tsonga fazer moça no “saque” do adversário, que venceu impressionantes 90% dos pontos com o primeiro serviço e ainda 60% no segundo. E ao 2-3 do terceiro parcial, quando voltou a ter um break point, Tsonga viu o adversário disparar… Um ás. E outro. E outro, para que não restassem dúvidas de quem tinha o controlo do encontro.

E mais: Marin Cilic não só ultrapassou as duas situações de maior aperto com distinção como delas e do desgaste mental que significaram fez uso para logo de seguida conseguir, ele sim, fazer a diferença no serviço de Jo-Wilfried Tsonga, que na ressaca de um ano de lesões ainda recebeu um medical time-out fora do encontro na segunda metade do terceiro set (à semelhança de Borna Coric no primeiro encontro…).

O mesmo espetador que no primeiro encontro não escondeu a insatisfação — “miseráble, miseráble”, desabafou a dada altura — sentia-se, desta vez, “très désolé”. Um sentimento, aliás, comum à grande maioria dos que estivera no Stade Pierre-Mauroy, que se já tinha ficado congelado na sequência do primeiro duelo ainda mais arrefeceu com o resultado do segundo.

A “saladeira” que durante o desenrolar do dia se instalou num dos cantos do court está cada vez mais próxima do branco da Croácia, que à entrada para a jornada de sábado se encontra na melhor posição possível perante os campeões em título: mais uma vitória e a equipa visitante ergue o troféu, o segundo da sua história (a primeira vitória aconteceu em 2005 e mais recentemente os croatas sagraram-se vice-campeões, perdendo a final de 2016 para a Argentina).

Manter a França na luta pelo título da Taça Davis (o último no formado tradicional da competição) será o papel de Pierre Hugues-HerbertNicolas Mahut, os recém finalistas do Nitto ATP Finals que lado a lado se sagraram campeões na terra batida de Roland Garros este ano e também já venceram em Wimbledon (2016) e no US Open (em 2015, o mesmo ano em que perderam a final do Australian Open). Mas a tarefa não será fácil: enfrentam Mate Pavic (vencedor do Australian Open este ano) e Ivan Dodig (campeão de Roland Garros em 2015). É, por isso, um daqueles duelos que prometem — e muito possivelmente o mais equilibrado de todo o fim de semana.

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