Bola Vermelha, Laranja e Verde – Algumas considerações

O Play and Stay trouxe-nos uma mudança incrível naquilo que é o ensino do ténis a todos os níveis, dando-nos a possibilidade de através do material adaptado (tipos de bola, raquetes e campos) conseguir tornar o ténis mais fácil, mais atractivo e mais competitivo principalmente para os nossos jovens.

Em Portugal fomos pioneiros na implementação desta nova metodologia que felizmente teve uma grande adesão por parte dos clubes e treinadores no que diz respeito ao uso deste material adaptado.

Mas será que o estamos a usar esta metodologia da melhor forma?

Deixo alguns pontos que considero importantes:
– Ser realmente um BOM treinador de escalões de formação (onde se trabalha mais com esta metodologia) é um trabalho difícil. Penso que de forma errada normalmente os clubes tendem sempre a colocar os treinadores com menor experiência/conhecimento nestes níveis desvalorizando a complexidade que é necessária para um bom trabalho a este nível;

– A qualidade do jogador que se vê na bola laranja deve-se muito ao trabalho e competências adquiridas na bola vermelha. (o mesmo se pode dizer da bola verde e da bola “normal”);

– A mudança da bola é uma decisão muito importante que deve ser feita da forma correcta. Só o devem fazer quando dominam os aspectos técnico/tácticos da bola anterior. É preferivel alongar esse processo do que fazê-lo de uma forma muito precoce. Por vezes eles estão a começar a dominar os aspectos técnicos, tácticos, a compreender o jogo (o que permite uma maior diversão e competição) e são colocados numa situação em que têm de dominar um espaço demasiado grande, ressaltos mais altos o que lhes traz muitas dificuldades em controlar o corpo, a raquete e a bola.

Dou-vos este exemplo:

O vosso aluno tem 1,25m e joga com bola vermelha. Na semana seguinte decidem mudar para bola/campo laranja. O campo vai crescer 7 metros, e o ressalto médio da bola vai passar de 95-110 cm a 110-115 cm. Tentem perceber o nível do desafio e se realmente o vosso aluno está preparado para o fazer (claro que sempre de uma forma progressiva).

– Não focar a mudança da bola na idade cronológica! A idade cronológica é apenas uma referência. Este aspecto é um daqueles que também infelizmente ainda vejo muito. Há que perceber que os treinadores têm de se mover ao ritmo do aluno e não o contrário! Se o aluno começou a jogar há 1 mês mas faz 10 anos este ano tem de mudar para bola verde? ERRADO!

Temos de perceber que todos nós temos uma idade maturacional diferente da idade cronológica, e por isso os timings são diferentes mesmo em jogadores com a mesma idade cronológica.

– É importante que os treinadores que trabalhem com estes níveis, perceberem quais as exigências de cada bola e do respectivo campo e as habilidades técnicas e a consciência táctica necessárias em cada fase. Tendo em conta também os princípios do GBA (Game based approach).

– Por último e não menos importante é a comunicação e educação dos pais. Como sabemos há muita tendencia dos pais quererem cumprir um papel além das suas competências.

“Se o outro rapaz/rapariga com a mesma idade já joga com bola verde, porque é que o meu ainda joga com laranja?!”

Uma boa comunicação com os pais é essencial. Se eles compreenderem o que está em jogo quando os jogadores mudam de bola, muito provavelmente ficarão do nosso lado. Temos de trabalhar com eles e não contra eles, já que fazem também parte do processo.

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