O shot clock e as novas regras de coaching – quisemos conhecer as opiniões dos portugueses

Fotografia: Anita Aguilar (via www.tennis.com)

Este ano, a United States Tennis Associaton (USTA) anunciou que o qualifying do US Open iria servir de palco a uma série de testes. Entre eles, um “shot clock” (ou countdown clock) com uma contagem decrescente de 20 segundos — o tempo que os jogadores têm entre pontos — e a liberdade para tenistas e treinadores dialogarem durante o encontro, sem estarem sujeitos a warnings.

Ora, em 2017 o torneio norte-americano contou com a presença de quatro tenistas portugueses na fase de qualificação e o RAQUETC quis descobrir que diferenças sentiram os representantes lusos devido à implementação das novas regras.

Gonçalo Oliveira, que se estreou em torneios do Grand Slam frente a um compatriota (Gastão Elias), acredita que “é uma alteração para ficar” e diz ainda que “exige dos jogadores uma preparação física maior e vai alterar a forma de jogar.”

Questionado sobre se o shot clock teve impacto no seu jogo, o portuense respondeu afirmativamente: “notei diferenças a nível físico porque não existe descanso entre os pontos. Torna-se tudo mais rápido e mais cansativo.” Apesar de ter dito que “não olhava para o relógio” durante o encontro, Oliveira não escondeu que “sabia que tinha de me preparar de forma mais rápida para o ponto.”

Gastão Elias, responsável pela eliminação de Oliveira na eliminatória inaugural antes de cair perante Denis Shapovalov, afirma que “não houve grande diferença. Acho o relógio de tempo que colocaram no campo interessante mas ao mesmo tempo pode ser prejudicial. Em relação à regra nova do treinador [poder falar com o jogador], também não fez grande diferença.”

O tenista natural da Lourinhã diz que “os treinadores já comunicam com os jogadores mesmo não sendo permitido” e não acredita que isso possa mudar o rumo do jogo: “A tática já está definida antes do jogo e por isso a necessidade de o treinador falar com o jogador durante jogo é muito pouca”, mas revela que “adorei poder fazê-lo sem nenhuma pressão do árbitro.”

Pedro Sousa, que foi afastado na eliminatória inaugural, diz que “o shot clock tira um bocadinho a pressão de algumas discussões de warnings de tempo aos árbitros, mas como nunca na vida levei um warning de tempo não fez grande diferença. Se calhar cria-se um bocadinho mais de pressão, mas a mim não me fez diferença.”

Em relação às novas regras de coaching, o lisboeta concorda com o amigo Gastão: “O coaching foi bom. Não exagerámos mas sim, já que viajamos com treinador e ele está ao nosso lado é bom poder dar algumas indicações. Ainda assim, Pedro Sousa diz que “já estamos tão habituados a jogar sozinhos que se não implementarem isso não faz grande diferença.”

O que pensam os Big Four:

Lá por fora, entre os principais nomes do circuito, as opiniões variam. Atual número 1 mundial e um dos jogadores conhecidos por demorar mais tempo do que a maioria dos adversários entre os pontos, Rafael Nadal é contra o shot clock e explica porquê: “Se os fãs querem pontos curtos e jogadores a jogarem sem pensar, talvez seja bom. Mas se querem encontros como as finais que eu joguei aqui com o Djokovic, que são provavelmente aqueles em que o público mais se envolve e os pontos são maiores, não se pode estar à espera que depois de rallies com 50 pancadas um jogador esteja pronto em 20 segundos.”

A 1 de fevereiro de 2012, poucas horas depois da final ter terminado, a ESPN publicou um artigo no qual calculou que a final épica entre Rafael Nadal e Novak Djokovic (que só terminou ao fim de 5h53!) teria durado menos 70 minutos se fosse sempre jogada de acordo com os limites de tempo. Mas, como o espanhol ressalva, talvez não tivesse sido tão equilibrada e prolongada se assim fosse.

Por falar em Novak Djokovic, que sobretudo nos primeiros anos da carreira estendia a paragem entre pontos com um bater de bola muito frequente, já por várias vezes afirmou ser contra a implementação de um shot clock “porque o árbitro está em campo para fazer o seu trabalho”.

Em relação ao “free coaching” o sérvio tem uma opinião mais aberta: “Acho que é uma boa ideia, para ser sincero. O ténis é um dos únicos desportos, senão mesmo o único a nível global, em que os treinadores não podem falar com os jogadores. Se for dentro do limite de tempo, se mantiver o respeito pelo adversário e o seu ritmo de serviço e for quando o jogador está do lado do treinador, acho uma boa ideia.”

Neste ponto, Roger Federer não partilha da opinião do sérvio: “Não sou a favor disso. Acho interessante que no ténis estejamos um pouco por conta própria. Para além de que nem todos os jogadores têm os mesmos recursos para treinadores, portanto não tenho a certeza de que isso seria benéfico.” Consciente de que “pode ser interessante para algumas pessoas assistirem às conversas”, Federer mostra-se mais entusiasmado pela implementação do shot clock, ainda que apresente algumas dúvidas:

“A ideia do shot clock é interessante, mas como é que se define como é que se julga… Isto é, quando o ponto acaba depois de um amortie, um ponto longo, um jogador tem de correr para a linha de fundo… Às vezes precisamos de alguma margem de manobra, mas acredito que em alguma fase teremos de reforçar a regra porque há demasiados jogadores a irem demasiadas vezes para çá do limite. Não tenho a certeza se é uma ideia boa, mas acho que se deve experimentar.”

Andy Murray, por sua vez, afirmou, no Masters 1000 de Monte Carlo, em 2016, que “os árbitros são todos muito bons, o shot clock não é necessário”.

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